O que se salva do governo tem DNA tucano

Por Bruno Araújo

Nada como reforçar uma história verdadeira para colocar as coisas no lugar e desmascarar incongruências reiteradamente ditas pelo ministro da economia Paulo Guedes.

Por décadas a crítica mais contundente direcionada ao PSDB foi o rótulo de “neoliberal”.  Nos governos de Fernando Henrique Cardoso, o partido sofreu duros ataques por medidas como a abertura do mercado das telecomunicações, a privatização da Vale, a Lei de Responsabilidade Fiscal, a reforma administrativa, a reforma da Previdência, entre outras ações. Hoje é quase consenso que todas essas iniciativas modernizaram o Estado brasileiro e deixaram portas abertas para o desenvolvimento.
A oposição não deu trégua. Literalmente gritavam: “entreguistas”, “direitistas”, “inimigos dos pobres” e até coisas piores. Promoviam passeatas, fechavam ruas, queimaram boneco de FHC. Em algumas faculdades e fóruns de discussões as políticas, “neoliberais” do PSDB eram tudo de pior que poderia ser implantado no Brasil.
Com a chegada do Partido dos Trabalhadores ao poder os alicerces econômicos herdados foram conservados. Sob o discurso de “herança maldita”, mantinham e até mesmo aprofundavam as políticas do governo anterior.  A primeira medida legislativa apresentada pelo PT em 2003, inclusive, foi a reforma da Previdência.
Não custa lembrar que o governo petista começou a desandar exatamente quando as medidas “neoliberais” foram desmanteladas.  A política econômica de Dilma Rousseff jogou o país na maior crise econômica de nossa história com seu rastro de falências, desemprego, desesperança e radicalização na sociedade.  Mesmo com toda a instabilidade política, o ex-presidente Temer buscou retomar a agenda de privatização e modernização do Estado.
Nessas últimas décadas sabemos qual era a posição do então deputado Jair Bolsonaro. Era a de votar contra as privatizações, contra as reformas, defender corporações, subir à tribuna inúmeras vezes para vociferar contra a reforma da Previdência e mesmo contra Fernando Henrique Cardoso, contra o qual pregou o fuzilamento.
As voltas da história surpreendem e esse mesmo deputado que tanto atacou as políticas liberais tucanas é eleito com uma plataforma de reformas e modernização do Estado.  Devido à responsabilidade do Congresso, conseguiu aprovar a reforma da previdência, apesar dele. Mudanças por sinal que foram conduzidas por três tucanos: o ex-deputado e secretário especial da Previdência Rogério Marinho, o deputado Samuel Moreira, relator na Câmara, e o ex-governador Tasso Jereissati, no Senado.
Por isso, é no mínimo com indignação, pela impropriedade, que lemos entrevistas de Paulo Guedes como a esta Folha dizendo frases como: “Dá para esperar quatro anos de um liberal-democrata após 30 de centro-esquerda? ”. Ou “o Brasil tem 30 anos de expansão de gastos públicos descontrolados”, dito também à imprensa. Ele está se referindo a pessoas como Gustavo Franco, Pedro Malan, Armínio Fraga, ou Pedro Parente?
Ora, a questão não é de rótulo. Muitos tucanos consideram sim que fizeram um governo de centro-esquerda. Até porque ao lado da condução liberal na economia os governos do PSDB colocaram todas as crianças na escola, expandiram o programa Saúde na Família, implantaram os medicamentos genéricos e iniciaram os programas de transferência de renda. Sobre ações como o Bolsa-Escola e o Vale Gás, que resultaram no Bolsa Família, cabe também uma ironia da história: essas ações foram consideradas “liberais” e atacadas à época inclusive por Lula.
O mínimo então que exigimos, para o restabelecimento do rigor à realidade, é que o ministro Paulo Guedes tenha consciência de que não está reinventando a roda com suas ações e propostas. Segue apenas uma trilha que já foi iniciada por outros governos, sobretudo o PSDB.  O DNA de muito do melhor que ele propõe, inclusive, pode ser encontrada nos anos 90.
Para que os pingos nos is sejam colocados: nada do que Guedes sugeriu ou pretende implantar – reformas administrativas ou tributária ou qualquer avanço na área econômica ou social –  será possível sem o forte apoio do PSDB. Então, o mínimo que o ministro precisa fazer é ser correto com os fatos.

*Bruno Araújo, presidente nacional do PSDB

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4 Comments

  1. LUCIANO NORENBERG MOREIRA

    O mesmo PSDB que fez acordo com o PT , a Lava Jato mostrou isso, Serra, Alckmin, Aécio, todos RECEBERAM (Paulo Preto que o diga) e se associaram ao PT, e formaram uma quadrilha para assaltar o Brasil, PT e PSDB farinhas(Perrela et amigos)) do mesmo saco. Só o fato da lava jato ter desmascarado o PSDB já valeu a pena.

  2. Satanás

    O mascote do PSDB não deveria ser o tucano mas o pavão! Que humildade do caralho a nota assinada pelo presidente do PSDB. Tudo o que o PT fez de bom, segundo o pavão, digo, o tucano, em seus governos era coisa do PSDB. Agora, com o Bolsonaro, é a mesma coisa: tudo o que os tucanos aprovam no governo tucano (com certeza, as privatizações, a entrega de nossas riquezas, a “modernização” das relações trabalhistas – na verdade, o fim dos direitos dos trabalhadores) tem o DNA do PSDB. Na humildade que os tucanos exalam, o presidente do PSDB bate na tecla que seu governo implantou os medicamentos genéricos, quando todos sabem que a legislação que introduziu os medicamentos genéricos no Brasil foi assinada pelo médico Jamil Haddad e o presidente Itamar Franco. Cadê a humildade e a honestidade tucanalha pra admitir que, no caso dos genéricos, o DNA era do Itamar Franco e de seu ministro da Saúde, o dr. Jamil Haddad?

  3. Gotardo

    Quem é esse Bruno Araújo? Deve ser algum adolescente politicamente. Tem memória bem curtinha. Por isso passa longe da aliança AécioPSDB&Cunha&ViceTemer&Globo&LavaJato para tirar Dilma, inviabilizando seu governo. O “garotão” Bruno se esqueceu que o Aécio foi pra justiça questionar o resultado eleitora só pra encher o saco. E as pautas-bomba para arrebentar a economia do país. E por último: desconfio que esse tal de Bruno, quando encontrar o Temer, vai dizer também I love you como Bolsonaro disse pro Trump.

  4. Genildo

    Tem que ser muito retardado, ou salafrário, pra usar o termo “nossas riquezas”. Vai lá no posto de combustível, abastece e fala pro frentista: “vou pagar nada não, desconta aí minha parte que essa riqueza também é minha”.
    Quer ser dono de algo? Vai lá é compra PETR4, mas compra mesmo, muito………

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