Ex-delator acusa Moro no STF de usá-lo para investigar desembargadores, juízes e ministros do STJ

do G1

O senador Sergio Moro (União Brasil-PR), em entrevista ao Estúdio i — Foto: Reprodução/GloboNews

O senador Sergio Moro (União Brasil-PR), em entrevista ao Estúdio i — Foto: Reprodução/GloboNews

O hoje senador diz que a acusação é infundada e que não existem gravações de pessoas com foro no processo.

O acordo foi celebrado em dezembro de 2004, e pessoalmente supervisionado, checado e monitorado por Moro ao longo de anos.

O documento, agora enviado pelo delator ao Supremo Tribunal Federal, mostra que a colaboração previa, entre outras coisas, que o réu usasse escutas ambientais em encontros e conversas com políticos e juristas para obter informações sobre desembargadores do Paraná e ministros do Superior Tribunal de Justiça.

No processo, agora remetido ao Supremo com a intenção de anular todos os efeitos da ação de Moro contra Tony, há registros até de conversas telefônica do ex-juiz com o réu, cobrando a entrega das tarefas que tinham sido estabelecidas no trato legal.

Os autos mostram que 30 missões foram delegadas ao delator como condição para a colaboração com o Ministério Público Federal, assinada por Moro.

Procurado, o ex-juiz e hoje senador nega qualquer irregularidade, diz que Tony é criminoso condenado e que nenhuma das gravações entregues por ele envolve pessoas com foro.

“Tony Garcia é um criminoso que foi condenado, com trânsito em julgado, por fraude e apropriação indébita. Em 2004, fez acordo de colaboração que envolveu a devolução de valores roubados do Consórcio Garibaldi e a utilização de escutas ambientais autorizadas judicialmente e com acompanhamento da Polícia Federal e do MPF. Essas diligências foram realizadas por volta de 2004 e 2005, e todas foram documentadas”, diz o ex-juiz.

A descrição dessas “tarefas” é detalhada. Na de número 8, por exemplo, está registrado literalmente: “Caso TRF Ricardo Saboya Kury — Bertoldo [um advogado paranaense] teria obtido liminares favoráveis com o Des. [desembargador] Dirceu, mediante troca de favores. O beneficiário procurará obter a fita cassete junto a Nego Scarpin, onde constaria tal fato, podendo, neste caso, realizar escutas externas.”

Há outras menções a escutas e gravações em posses de terceiros que deveriam ser encontradas pelo delator para que ele pudesse obter os benefícios previstos no acordo. É o caso das tarefas 4 e 5.

“4) Caso Nego Scarpin – Bertoldo teria passado para a CPLI-BANESTADO a conta de Luiz Antônio Scarpin para extorquir dinheiro. (Trata-se do bilhete apreendidos manuscrito pelo Sérgio Malucelli com timbre da Votorantin). Estariam envolvidos o Deputado Iris Simões, o Dep. Mentor e o Vereador João Melão/SP. O beneficiário trará a prova documental e gravações. Essas gravações estão em poder de Nego Scarpim, envolvendo Desembargadores do TRF, advogados e políticos. 5) Caso Enio Fornea X Bertoldo. As fitas acima contêm gravações do auxílio dado a Enio Fornea por um Desembargador do TRF da 4o Região.” [sic]

Além de avançarem sobre colegas da magistratura que formalmente não poderiam ser investigados na primeira instância, o MPF e Moro incluem no acordo uma cláusula que tinha como principal, ou único destinatário, o próprio ex-juiz.

Afirmando ter sido ele mesmo, Moro, alvo de um grampo ilegal, determina-se que Tony recupere o grampo e o apresente à 13ª vara para providências cabíveis. O autor da escuta ilegal seria um advogado, Bertoldo, principal personagem das 30 tarefas distribuídas ao delator.

O feito está registrado na penúltima “missão” imposta a Tony. “29) Interceptação telefônica do Juiz Federal: Segundo Antônio Celso Garcia, o Advogado Bertoldo teria mandado interceptar a linha telefônica do Juiz Federal Sérgio Moro. O grampo teria ocorrido na PIC do MPE onde Bertoldo tem influência. De fato, as interceptações telefônicas do PCD revelam conversa entre Roberto de Siqueira e Eduardo Albertini sobre possível mandado de prisão expedido contra Toni Garcia. Bertoldo, por volta da 1 hora da manhã esteve na casa de Toni Garcia [sic] dizendo para que ele fugisse pois seria preso. Toni [sic] não acreditava e Bertoldo afirmou que tinha grampeado o telefone de Sérgio Moro e ouvira ele ligando para alguém da Força Tarefa para avisar que havia decretado a prisão de Toni [sic]. O beneficiário testemunhará e procurará obter a prova da materialidade delitiva.”

Em um dos episódios, a Polícia Federal, que monitorava as escutas feitas por e com o auxílio de Tony relata uma conversa, por telefone, do próprio delator com o ex-juiz. Toni, na ocasião, era réu de Moro.

Na conversa, Tony faz reparos ao trabalho do MPF e Moro diz que, independentemente disso, teria de dar alguma condenação ao delator, porque isso estava estabelecido no acordo fechado cerca de um ano antes.

Tony foi condenado a seis anos de prisão por fraude em consórcios, mas teve, por conta de sua colaboração, a pena comutada em serviços comunitários. O benefício foi concedido por Moro.

Agora, o ex-colaborador do hoje senador vai ao Supremo para condenar Moro por atuação parcial, anular os efeitos de seu acordo e todas as informações levantadas por ele. O caso está com o ministro Dias Toffoli. Ele recebeu em anexo todas os registros do MPF, da PF e da própria 13ª vara que tratam da colaboração de Tony com Moro por anos no Paraná.

Leia a íntegra da manifestação de Moro

Tony Garcia é um criminoso que foi condenado, com trânsito em julgado, por fraude e apropriação indébita. Em 2004, fez acordo de colaboração que envolveu a devolução de valores roubados do Consórcio Garibaldi e a utilização de escutas ambientais autorizadas judicialmente e com acompanhamento da Polícia Federal e do MPF. Essas diligências foram realizadas por volta de 2004 e 2005, e todas foram documentadas. Não incluem qualquer gravação de autoridade com foro privilegiado, nem têm qualquer relação com as investigações do Mensalão ou Petrolão. Aliás, a farsa afirmada por Tony Garcia é facilmente desmascarada por ele não ter qualquer gravação de magistrados do TRF4, STJ ou STF.

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11 Comments

  1. Sandro Augusto dos Santos

    Infelizmente, este já passou da hora de ser cassado. Uma pena o povo paranaense ter se embriagado pela mídia elegendo este cidadão.

  2. Campos

    Com certeza que não há mal que dure para sempre. Já passou da hora desse ex-juiz travestido de soberano julgador ser cassado e levado ao xilindró. O ápice de que Moro não passava de picareta mal intencionado do Judiciário ocorreu quando a Lava Jato, sob seu comando em parceria com o evangélico Deltan Dallagnol, outro procurador picareta em função tão importante, enviou à Globo o grampo ilegal com a gravação da então presidente Dilma e o ex-presidente Lula. Qualquer juiz mequetrefe saberia que grampo ilegal nada vale, deve ser descartado e sua divulgação é crime. Qualquer juiz mequetrefe também sabe que grampo, se legal, envolvendo autoridade com foro privilegiado, obriga o envio do processo ao STF. A Justiça só será consumada completamente quando esse bolsonarista for cassado e pagar na prisão pelos crimes cometidos.

    1. Glaucia

      Exatamente.

  3. Genildo

    Só leva a sério o que Tony Garcia diz quem nunca comprou uma única cota do Consórcio Garibaldi.

    1. Satanás

      Não é assim que funciona, parceiro. Já vi delegado levar a sério palavras de “malucão” e chegar a bandido traficante. O falso combatente da corrupção está caindo do cavalo. Quá! Quá! Quá!

      1. Genildo

        Parceiro? Tá louco? Não me meça pela sua régua, não sou igual seus pares não!

        1. Satanás

          Quá! Quá! Quá! Tá estressado, amigão? Quá! Quá! Quá!

  4. Walace

    Bom, se começarem a remexer a merda, desde o banco Del Paraná, vai feder federal kkkkkkkk.

  5. VERITAS LUX MEA

    Em maio cai ele e a leva de oportunista que grudou nele.
    Aqui em Londrina o Trimdade, Juliani e Fernanda Vioto.

    A verdade é minha luz.

  6. Anubian

    Os dois, Bolsonaro e Moro, vão dividir uma cela e pagar pela própria burrice.

    Bolsonaro viu o rumo que as coisas estavam tomando por aqui e achou que seria prudente voltar pro Brasil pra “liderar a oposição” em plena era do Complexo do Xandequistão. Esse cara tinha que ter saído dos Estados Unidos direto pra Itália. Com a mesma facilidade que a máfia da toga tirou o Cachaça da cadeia e devolveu a elegibilidade dele, ele perdeu a elegibilidade e vai acabar na cadeia.

    Moro sabia exatamente o que o PT significava mas resolveu entrar na onda da imprensa e encampar o anti-bolsopetismo, como se Lula e Bolsonaro fossem a mesma coisa. Perdeu a toga, vai perder o mandato, vai perder a liberdade e vai fazer companhia pro Bolsonaro na cadeia enquanto o Cachaça e a a meretriz particular dele viajam no novo Aerolula de 400 milhões de Reais.

  7. Bispo Ramos

    Agora Moro tenta tratar Tony Garcia como um reles condenado em total descrédito. O problema de Moro é que antes Tony Garcia era seu “amigão” chantageado, seu araponga escolhido a dedo, seu espião favorito. Nada como um dia depois do outro, não é, Marreco? Como as viúvas do Bolsonaro, as conjas do Moro também estão em polvorosa e ficam essas patéticas repetindo as notinhas divulgadas pelo ainda senador bolsonarista.

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