Não à militarização das escolas!

Por Gleisse Martins

Educação é ofício de professor e de professora, não da polícia.

A Alep aprovou recentemente a implementação de 200 escolas cívico militares no Paraná, a partir da adesão a um projeto do Governo Federal – que diga-se de passagem não esteve, desde 2019, preocupado com o FUNDEB – e que agora pretende militarizar as escolas estaduais.

Pautados no discurso de que “as comunidades passarão por consulta pública”, diretores e diretoras de escolas públicas foram chamados ontem pela manhã para uma reunião, para receberem a notícia de que tais escolas foram “escolhidas” para este fatídico projeto. E mais: que as consultas já estão sendo realizadas hoje! Ora, que consulta pública é esta que não conta com ampla divulgação? Que consulta pública é esta que não dá tempo hábil para professores e professoras, alunos e alunas, funcionários e funcionárias, pais e mães, enfim, toda a comunidade escolar estudar o projeto? Aligeirar um processo que requer uma análise cuidadosa dos impactos para a educação de crianças e jovens estudantes é uma atitude antidemocrática.

É preciso dar tempo para o estudo e dar voz pra essa comunidade a partir da reflexão e não do aligeiramento e do achismo. O achismo sempre foi um inimigo da Educação pública brasileira. Se o projeto é tão bom assim, por que ele acaba com o ensino médio noturno quando temos tantos alunos e alunas trabalhadores e trabalhadoras que precisam estudar à noite porque trabalham para ajudar as suas famílias? Se o projeto é tão bom assim, por que não verifica quantos alunos e alunas adolescentes participam dos programas de jovem aprendiz das empresas trabalhando meio período, e com a inclusão de uma sexta aula, não terão tempo de chegar ao trabalho?

Nenhum e nenhuma adolescente trabalha “porque quer”; trabalham porque a realidade de suas famílias é muito diferente da realidade de deputados e deputadas que votaram em favor do projeto da militarização das escolas, muito diferente da realidade do presidente da república, que passou 27 anos sendo deputado e nunca se preocupou com a juventude trabalhadora desse país. Se o projeto é tão bom assim, porque ele encerra o turno noturno impossibilitando a oferta da Educação de Jovens e Adultos na escola? Nos Colégio Estadual Vista Bela, em Londrina, os alunos e alunas da EJA precisarão se deslocar para outro bairro para estudar.

A EJA existe porque o Estado tem uma dívida histórica com estes e estas estudantes jovens, adultos e idosos que não puderam ou conseguiram estudar na infância e que agora, se vêem diante de mais um empecilho do Estado quando encerra o turno noturno em alguns colégios estaduais. Fechar o noturno é negar direitos. Além disso, as escolas precisam de recursos e estrutura de qualidade, as escolas precisam compreender a realidade do bairro em que estão inseridas e a realidade e as necessidades de seus alunos e alunas.

E isso infelizmente não é traduzido pelas notas das avaliações externas porque estas avaliações colocam a todos num pé de igualdade para avaliar, e temos uma ampla diversidade de realidades na educação pública. Investir, e não militarizar, é o caminho para Educação. A disciplina militar serve para os quartéis, jamais para as escolas. Eu quero ver um mundo formado por cidadãs e cidadãos com formação política pautada nos princípios da cidadania, e isso não inclui formar “soldadinhos” nas escolas. Eu luto por uma escola inclusiva, que respeita a diversidade. Eu luto por uma escola cidadã.

Militarizar não é a solução. Eu luto por uma escola cidadã.

Gleisse Martins, professora da rede municipal de ensino de Londrina, coordenadora do fórum de educação de Londrina.

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8 Comments

  1. Xereta

    Pelo que entendi no discurso do governo é que, os professores serão responsáveis pelas aulas e a parte militar pela disciplina, perfeito, agora, quero ver o aluno ir lá dar tapa na cara do professor, quero ver se vai haver patifaria no intervalo, uso de ilícitos nos banheiros, parabéns 1000x ao governador

  2. Considerações

    Talvez, a nobre professora não reconheça a realidade de algumas escolas inseridas na periferia!
    Provavelmente, a educadora não utilize o transporte público onde grande parte dos alunos demonstram sua verdadeira “educação”, demonstrada com relação aos demais usuários!
    Com certeza, a coordenadora sabe quantos destes alunos, matriculados em escolas cidadã, consigam entrar e se formar em uma Universidade Pública.
    O pai – ou o aluno, caso seja maior de idade – poderá escolher qual escola deseja.

  3. Anubian

    Já senti o cheiro de PSOL na primeira linha do artigo, coloquei o nome dela no Google e não me desapontei. Convenhamos que ela tem um ponto: se o tal projeto vai encerrar sumariamente o noturno, isso será bem prejudicial para a comunidade. Mas eu passei pela educação pública, e depois pela graduação mais petista disponível na UEL – Serviço Social – e digo que professores como ela não querem formar cidadãos, e sim formar militantes. Eles são apresentados a um espantalho do famigerado “sistema”, e ensinados a criticá-lo sem sequer entendê-lo. Uma versão acadêmica da síndrome de entendedor de tudo que assola as redes sociais. E não existe pensamento crítico onde o lado certo e o lado errado já estão pressupostos, e sua escolha é apenas concordar com o lado certo ou estar errado.

    1. Silvano Redon

      Isso está muito claro no projeto das escolas cívico militares: redução do número de vagas e a NÃO oferta das turmas no período noturno. Que escola é essa que fecha as portas para aquelas que precisam da escola pública noturna, que são os estudantes trabalhadores? Podem dizer que basta OPTAR por outra escola. A depender do município, isso vai demandar transporte coletivo, e muitos não podem arcar com mais essa despesa (são poucas as cidades do Paraná que ofertam o meio passe para o estudante). O que esse aluno vai fazer? Deixar de estudar?

  4. Povão

    Velha e inútil discussão.

    1. Wilson

      Conversa de esquerdista
      Basta ver a fila de candidatos que querem estudar nestas escolas.
      No Google esta senhora é do PSol.
      Só isto diz tudo.
      Nem sei porque perdi tempo lendo as idiotices que ela escreveu.

  5. Rafael Levi

    Quem vai comandar as escolas “cívico militares”? Um civil? Um militar? O militar que vai atuar nessas “escolas” vai aceitar o comando de um professor civil? Os militares que atuarão nessas escolas irão acompanhados de suas respectivas pistolas .40? Ou terão que ir desarmados e se exporem a risco de algum ataque sem a “devida” proteção? Na entrada dessas escolas serão erguidas guaritas como as de um quartel e cercadas por muros altos e protegidos por sistemas eletrônicos de custo altíssimo? Como o estado vai transformar escolas civis em militares, os alunos dessa escola serão obrigados a aceitar uma educação militarizada sem contestação? Professores civis e pacifistas terão que aceitar o controle militar de suas atividades didático-pedagógicas? Hitler tentou o mesmo na Alemanha nazista e todo mundo viu a merda que deu!

  6. Silvano Redon

    Triste uma sociedade que acredita ser os policiais mais capacitados que os professores para gerir a educação. Um dos argumentos centrais dos defensores das escolas cívico militares é a segurança, ou sua ausência. Temos de lembrar que a escola não é violenta; é a violência que chega à escola. É o município, o bairro, a região e o entorno da escola que são violentos, não a escola. Outros argumentam que os militares vão ser responsáveis pela gestão administrativa; e os educadores continuarão responsáveis pela gestão pedagógica. Ora, quando falamos de escolas, a gestão administrativa deve estar subordinada à gestão pedagógica. Os militares vão aceitar essa subordinação? No mês da consciência negra, em novembro, quando o corpo docente desenvolver uma intervenção artístico cultural em que as alunas possam ir com lenços nos seus cabelos ou mesmo com os cabelos soltos, em favor da estética negra, a direção administrativa vai se subordinar a isso? Ou quando o corpo docente desenvolver uma atividade de grafitagem no muro, a gestão militar (administrativa) vai se subordinar? Escola é espaço da ciência, da diversidade, da pluralidade, do diferente, do debate…não do autoritarismo. Ouvi o argumento equivocado e irreal de que os militares devem ocupar a direção das escolas porque os diretores civis não deram conta do trabalho. E o contrário? A policia também não deu conta de resolver o problema da violência, por isso essa violência chegou à escola. Pela lógica do argumento, os civis também devem assumir o controle dos quartéis. Os civis podem fazer isso? Argumentam que as escolas militares têm melhores índices no IDEB. Claro, elas recebem mais recursos. Mas porque não prover todas as escolas com mais recursos? Porque não distribuir recursos de maneira igualitária para todas as escolas? Lembremos que a forma como esse programa chegou até nós já é autoritário: sem debate, sem a participação das lideranças estudantis e dos educadores. Podem argumentar que foi feita votação. Que votação? Votação sem debate e esclarecimento?

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