Quem manda é o STF, diz novo presidente do Superior Tribunal Militar

do Conjur

O Superior Tribunal Militar deve respeitar o entendimento do Supremo sobre a existência ou não de crime militar nos atos terroristas levados a cabo em Brasília em 8 de janeiro.

A opinião é do novo presidente do STM, tenente brigadeiro do ar Francisco Joseli Parente Camelo, que assume a liderança da Corte ainda em meio à repercussão dos atos antidemocráticos

“Cada caso é um caso. Em última instância, quem define se é crime militar ou não, havendo a dúvida, é o Supremo Tribunal Federal”, afirmou Camelo em entrevista ao Anuário da Justiça Brasil 2023, publicação da ConJur que será lançada em maio.

 

Também deve caber ao STF decidir se é Justiça Militar ou a Justiça comum que possui competência para julgar crimes cometidos por militares em ações que não estão relacionadas de forma direta com a suas funções típicas, como no apoio a questões comunitárias e no socorro a vítimas de desastres. A análise da Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI) 5.032 está suspensa após pedido do ministro Ricardo Lewandowski para que o caso deixasse o Plenário Virtual e fosse julgado no Plenário físico.

O tenente defende que haja um bom relacionamento entre o Judiciário e os demais Poderes como uma forma de preservar a Democracia. E afirma que é o que se tem observado após os atos de 8 de janeiro.

Entre os principais desafios de sua gestão à frente do STM está o de obter a representação da Justiça Militar no Conselho Nacional de Justiça (CNJ). O senador Eduardo Gomes (PL-TO), com o apoio da Corte militar, tem colhido assinaturas para apresentar umaProposta de Emenda à Constituição que aumente de 15 para 18 o número de cadeiras no conselho.

Francisco Joseli Camelo também pretende dialogar com o Ministério da Fazenda para conseguir recursos que permitam construir uma nova sede para o STM. “O nosso orçamento, entre os tribunais superiores, é o menor da União”, afirma.

O tenente brigadeiro do ar foi o responsável por coordenar as viagens oficiais do presidente Luiz Inácio da Silva (PT) durante os seus dois primeiros mandatos, assim como por pilotar o avião que ficou conhecido como “Aerolula”. Francisco Joseli Camelo afirma ter desenvolvido uma relação de amizade com o chefe do Poder Executivo. “Tive o privilégio de trabalhar com ele por oito anos. Isso criou um elo de aproximação muito forte. Tenho uma consideração muito grande e muito respeito pelo presidente Lula”, conta.

Leia a entrevista abaixo:

ConJur  Quais os planos do senhor para a sua gestão à frente da Corte? Quais devem ser os principais desafios?
Francisco Joseli Parente Camelo  Os desafios serão muitos. O primeiro deles é conseguir assentos para magistrados da Justiça Militar no Conselho Nacional de Justiça. O senador Eduardo Gomes está encaminhando essa questão no Congresso.

Toda grande jornada começa com o primeiro passo, e estamos preparados para dar também um primeiro passo para a construção da nossa nova sede. Falta pouco, apenas a destinação dos recursos. Já temos o terreno e o projeto executivo já está concluído. Não é fácil, dada a situação econômica do momento, mas vamos perseguir esse objetivo. Nosso orçamento, entre os tribunais superiores, é o menor da União.

ConJur  Fazendo um balanço, quais foram os principais assuntos que foram julgados pelo STM ao longo de 2022? E quais os temas que acredita que devem ser destaque ao longo de 2023?
Francisco Joseli Parente Camelo  Dos assuntos mais julgados, 52% foram relacionados a drogas. A Justiça Militar tem tolerância zero com esse tema. Depois veio o estelionato; em seguida, o furto — a maioria dos furtos é de celular. Temos peculato, deserção, corrupção passiva, o abandono de posto pelo uso de documento falso, falsidade ideológica, lesão corporal leve.

ConJur  O senhor acredita que esses temas devem continuar tendo relevância em 2023?
Francisco Joseli Parente Camelo  A deserção, até 2020, estava em primeiro lugar na lista de temas mais julgados. Já está em terceiro em 2021 e 2022. Drogas era o segundo, já está em primeiro. Há uma flutuação.

ConJur  Na opinião do senhor, qual é o melhor formato de trabalho a ser adotado pelo tribunal neste momento de melhora da epidemia? O trabalho presencial, remoto ou híbrido? Qual tem sido a tendência na Corte hoje?
Francisco Joseli Parente Camelo  Há vantagens e desvantagens em cada tipo. A defesa dos réus nos processos julgados defende muito que o julgamento seja presencial, por dar mais condições para os debates. No virtual, há a vantagem de ser mais célere.

Nas semanas de julgamento presencial, temos julgado em média apenas dez processos. Nos virtuais, conseguimos julgar de 20 a 25. Mas a tendência hoje é adotar um modelo híbrido. Imagino que vamos julgar, ao longo desse ano, duas semanas presenciais e duas semanas virtuais. No ano passado, julgamos uma semana presencial e três semanas virtuais. Estamos nos aperfeiçoando nessa parte da informática.

ConJur  O Supremo Tribunal Federal deve decidir qual o alcance da Justiça Militar em crimes de militares em ações não diretamente relacionadas às funções típicas das Forças Armadas. Como a Corte tem se posicionado sobre esse assunto?
Francisco Joseli Parente Camelo  A Lei 13.491/17 trouxe uma inovação importante. Nós julgamos civis ou militares se estiverem sujeitos à administração militar, se for crime contra o dever militar ou contra a administração militar. Nesses três casos, previstos no nosso artigo 9º do Código Penal Militar, julgamos qualquer crime.

E é muito importante que esses crimes sejam julgados pela Justiça Milita. Por exemplo, se houver um crime de fraude à licitação com a participação ativa de um civil e a participação passiva de um militar, os dois têm que ser julgados no mesmo processo. Se houver um civil e um militar no caso, eles são julgados monocraticamente pelo nosso juiz federal militar.

ConJur  Ao menos três militares da reserva das Forças Armadas foram presos por terem participado dos atos de 8 de janeiro. E, atualmente, há dois inquéritos policiais militares contra coronéis da reserva que se manifestaram via redes sociais sobre o assunto. Na sua opinião, os militares que participaram dos atos devem ser punidos?
Francisco Joseli Parente Camelo —  O Ministério Público vai avaliar se vai oferecer denúncia ou não quando os militares tiverem participação pacífica, apenas assistindo. Mas se o militar participou da baderna, do vandalismo que aconteceu nos tribunais, no Congresso e no Palácio do Planalto, naturalmente esse militar cometeu crime comum, contra o Poder Público. Pela Justiça Comum, certamente deverão ser condenados.

Agora, esses dois militares que são alvo de inquérito, que falaram da administração militar, do alto comando do Exército, cometeram, na minha visão, um crime militar. O Ministério Público deve oferecer a denúncia e, após julgamento em primeira instância, vamos analisar o caso no STM. Vamos seguir o devido processo legal, dar todo o direito à defesa mas, se houver provas de que foram cometidos crimes, eles serão condenados.

ConJur  Quem participou dos atos e cometeu vandalismo deve ser julgado pela Justiça Comum?
Francisco Joseli Parente Camelo  Cada caso é um caso. Isso vai ser decidido por cada caso. Em última instância, quem define se é crime militar ou não, havendo a dúvida, é o Supremo Tribunal Federal. (leia mais)

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Um comentário

  1. Campos

    É isso aí! Tribunal militar só para militar que comete crime militar.

  2. Genildo

    Sempre me falavam que as forças armadas do Brasil só era boa mesmo para pintar meio fio de branco e capinar e eu ficava bravo. Peço desculpas……

    1. Satanás

      Quá! Quá! Quá!

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