Tarcisio x Bolsonaro. Que comece a briga
do UOL
Defensor da reforma tributária, o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), foi interrompido pelo ex-presidente Jair Bolsonaro e vaiado hoje durante reunião do PL que discutia o assunto. Alguns deputados bolsonaristas afirmaram que o ex-ministro está “queimado”.
O que aconteceu:
No vídeo compartilhado em páginas bolsonaristas, Tarcísio defende a reforma tributária. Ele está ao lado de Bolsonaro e de outras lideranças do PL, como o líder da oposição no Senado, Rogério Marinho (RN).
Bolsonaro fez uma crítica pública ao ex-ministro dizendo que “todo mundo aqui sabe que o Tarcísio não entende de política”, segundo fontes presentes na reunião relataram ao UOL.
O governador de SP disse que a direita deve discutir a proposta. “Nós não podemos perder a narrativa. A direita não pode perder a narrativa de ser favorável na reforma tributária. Senão, ela acaba sendo aprovada, e quem aprovou?”
Após a fala, Tarcísio é interrompido pelo ex-presidente, que diz: “Se o PL estiver unido, não aprova nada”. O ex-presidente havia se reunido com Tarcísio antes e deixado claro que é contra a reforma.
O governador, então, ressalta que não defende a votação da proposta ainda hoje e tenta explicar, enquanto é interrompido por outros participantes da reunião, que eles deveriam discutir o texto.
A fala de Tarcísio volta a ser interrompida por vaias. “Tudo bem, gente. Se vocês acham que a reforma tributária não é importante, não vota.”
A vaia partiu de metade da bancada do PL, que tem 99 deputados federais. Os mais exaltados são os alinhados ao ex-presidente. Na saída da reunião, estes parlamentares falaram que Tarcísio está “queimado” por tentar liderar a direita nas discussões da reforma tributária.
Ele fala só em nome de SP. Quando ele tenta colocar um discurso sendo um preposto, em tese, da direita do Brasil, ele exagera e por isso que nós não concordamos.
Sanderson, deputado federal do PL do RS
Tarcísio e Haddad
A hostilidade do PL com Tarcísio aparece após o governador fazer um pronunciamento ao lado do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, em que diz que concorda com 95% da proposta de reforma tributária.
Aliados de Bolsonaro viram o encontro de Tarcísio com Haddad como uma espécie de ‘traição’ e alguns classificaram a foto entre os dois como “vergonhosa”.
“A gente concorda com 95% da reforma. Quando a gente propôs a câmara de compensação, qual foi a lógica? A preocupação com a governança do Conselho Federativo”, disse o governador, ontem (5).
Após críticas de outros estados, Tarcísio admitiu a possibilidade de apoiar a cobrança centralizada de imposto na reforma tributária.
Mas, com a resistência enfrentada no encontro com integrantes do PL, Tarcísio decidiu se reunir novamente com o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL). O governador ouviu pedidos para que sugira o adiamento da votação da reforma tributária para agosto, apenas na volta do recesso parlamentar.
O presidente do PL, Valdemar Costa Neto, também avalia que o melhor é esperar o recesso parlamentar para discutir a matéria. Entre os integrantes do PL que não são bolsonaristas, a reclamação é que ainda há um desconhecimento sobre o texto final da reforma.
Bolsonaro queria o governador debaixo de seus chinelos. Tarcísio tem ambições próprias e sabe que ele nunca será o escolhido pelo ex-presidente para ser seu sucessor. Essa disputa é boa para o Bolsonaro. Ele empurra Tarcísio para a direita de centro e reduz a disputa do espólio neofascista para alguém do próprio clã. Com certeza, um dos filhos e, em último caso, a própria Michele. Pra isso conta com um eleitorado fiel e numeroso: os crentes, especialmente os de raiz neopentecostal, que seguem caninamente seu Messias.