Transformar o Bosque em Praça. Solução ou esconder o problema?

Foto Ippul

*Por Guto Rocha

Faz dias que venho pensando sobre o que está para acontecer com o Bosque de Londrina. Já escrevi e reescrevi textos e mais textos a respeito do projeto que tramita na Câmara Municipal, com a proposta de transformar aquele espaço em uma praça pública. Algumas pessoas já cobraram uma posição minha sobre a questão, afinal eu fui o “cara que abraçou o tronco do ipê”… (ai, José Alencar, a vida poderia ser mais romântica mesmo….) e com esse gesto despertei muitas pessoas que se uniram a mim em 2011 e depois de muita luta, bordoada, humilhação, desrespeito, piadas infames, conseguimos evitar que a rua fosse aberta no Bosque e as árvores abatidas, substituídas por novas mudas. Conseguimos mais: o Bosque naquela época acabou sendo enquadrado em uma lei municipal como uma APP (Área de Preservação Permanente).

E é justamente isso que agora é utilizado pela Prefeitura de Londrina para justificar a sua incompetência para solucionar os problemas do Bosque.

A administração municipal, o IPPUL (que passou da hora de se reciclar, renovar, inovar, ousar… ) e a Câmara Municipal alegam que por ser uma APP os cuidados com o Bosque ficam engessados, configuração legal que não permite grandes intervenções.

Mas quais intervenções o Projeto de Lei n. 090/2019, que está tramitando propõe?

Eles tomaram o cuidado de destacar no projeto apresentado pelo IPPUL, que a rua não será aberta no trecho em que a R. Piauí corta o Bosque e tampouco os Ipês replantados serão retirados (Assim “aquele louco que abraça árvores e faz fotos pelado com folhas de plantas e árvores não nos perturbará… devem ter pensado ao destacar isso no projeto), mas também, admitiram finalmente que a abertura de uma rua ali não resolveria o problema do trânsito caótico e doentio na região (finalmente voltaram atrás, pois o mesmo IPPUL sugeriu a abertura da rua em 2011 alegando que a medida aliviaria o trânsito, mas eles defendiam isso sem nenhum estudo… foda!)

O projeto 090 (nome de gangue né?) também prevê a erradicação de árvores, muitas árvores do Bosque. Fala em retirar as árvores exóticas e as menores que crescem no interior, em meio às adultas. O Bosque é uma área que foi deixada pela Cia de Terras Norte do Paraná, e o local – que na época tinha algumas poucas árvores nativas sobreviventes do massacre da Floresta Atlântica que cobria Londrina e servia para a manutenção da vida dos Índios Coroados, habitantes da região – passou a ser reflorestado, ajardinado, e como quase toda área em que se implanta um projeto paisagístico, recebeu muitas árvores exóticas.

Mas paralelamente, e o que é o ponto chave, as centenárias árvores nativas que resistiram cumpriram seu papel e espalharam sementes, resultando em milhares de árvores de diferentes espécies e tamanhos. A Natureza se recompõe quando é deixada em paz. E foi isso que aconteceu espetacularmente no Bosque de Londrina: árvores nativas e exóticas ocuparam o espaço que lhes é de direito e aquele bosque ralo, com muitas calçadas e jaulas para animais (ali já foi um mini zoológico) ganhou ares de uma floresta de verdade, toda misturada e rica em diversidade. É um tesouro que Londrina tem no coração da cidade, mas a grande maioria não reconhece a dimensão dessa riqueza.

O Bosque é um berçário de mudas, um banco de sementes de suma importância (ele abriga várias espécies de árvores que estão em extinção!!). Quando técnicos do BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento) estiveram em Londrina em 2012 para avaliar se a cidade merecia ou não receber um volume enorme de financiamento (à época, eu os persegui feito sequestrador para entregar um dossiê sobre o Bosque) ele ficaram pasmos ao saber que a Prefeitura queria abrir uma rua ali e justificaram essa reação dizendo que o Bosque era um privilégio para uma cidade do porte de Londrina.

Agora, por causa da infestação de pombos (que começou há pouco mais de 10 anos) e por conta dos moradores de rua, usuários de drogas e a prostituição que ocupam o lugar, trazendo “insegurança”, o poder público municipal quer “ralear” (ABATER) árvores, como se elas fossem o problema.

O buraco é muito mais embaixo… o problema são homens (bem complexo esse probleminha, não?). Por causa dos homens as pombas viram praga, afinal a agricultura, atividade humana por excelência, é que provoca a oferta excessiva de alimentos para essas aves se reproduzirem seguramente feito ratos, que buscam o Bosque apenas para dormir.

Um colega jornalista escreveu que os pombos usam o bosque como banheiro… Mas não… Elas cagam enquanto dormem também, elas cagam o tempo todo, comendo, voando, chocando. Elas não cagam apenas no bosque. Não adianta retirar árvores do bosque, as pombas seguirão utilizando o local como dormitório (ainda não se sabe bem ao certo por que escolher aquele lugar lindo para pousada) e seguirão cagando muito ali. São centenas de milhares de pombos.

E se não restar uma árvore sequer ali, elas vão cagar em outro lugar. As árvores não têm culpa… Ah, e o pior… o projeto não apresenta NENHUMA solução efetiva para a retirada dos pombos, estão apostando apenas na retirada das árvores. Uma sequência de erros… A mesma coisa acontece com os pobres desgraçados que incomodam a gente de bem de Londrina.

O projeto propõe o raleamento do sub-bosque como forma de permitir maior visibilidade de quem está lá dentro por quem está do lado de fora. É a velha tática da higienização social, mas tendo como alvo as árvores…. Mas as árvores não têm culpa de que os homens não dão conta de sua sociedade, de seu modelo de desenvolvimento predador e desumano, que transforma semelhantes em seres indesejáveis. Não adianta cortar as árvores, se não há investimentos em educação, em professores, em saúde, em moradia…. investimentos no homem. As árvores derrubadas não vão diminuir a tragédia humana que vivemos.

E sim, teremos uma praça cagada desde a sua inauguração e logo reocupada pelos indigentes que tanto incomodam, mas que os Poderes Públicos não fazem nada de efetivo para mudar o quadro. Mais fácil derrubar árvores e instalar uns bancos de concreto coloridos (bem brega hein IPPUL, PQP) como vem sendo feito em outras praças da cidade, e deixar os pombos cagando por todo lado.

Que cagada hein, Londrina!

*Guto Rocha é jornalista em Londrina

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6 Comments

  1. Paulo Flores

    Essa tua frase “Uma sequência de erros…” resume todos os livros sobre a Historia de Londrina.

  2. Josoé de Carvalho

    Aonde tua andas,ONG MAE. Tu estas caladas porque? Já fizeram tanto barulho que muita gente diziam que vocês eram “MAEDRASTA”. O BOSQUE não te interessaram?. Vai deixar somente o GUTO ROCHA se esgoelar?. Compadre PAÇOCA, vou abrir uma revenda de motosserras, a demanda vai ser grande. Quer ser meu sócio investidor?

  3. Limpem o Bosque, ele retornará com vida

    “Mais fácil derrubar árvores e instalar uns bancos de concreto coloridos (bem brega hein IPPUL, PQP) como vem sendo feito em outras praças da cidade, e deixar os pombos cagando por todo lado. Que cagada hein, Londrina!”
    Padrão Londrina – fazer coisas chinfrim, nada elaboradas mesmo contando com boas escolas de Arquitetura e Urbanismo. Mesmo tendo história em formar bons engenheiros e arquitetos:
    Nada disso é valorizado, sempre o galpão de borracharia e dos modelos de galpões prémoldados, tipo aquele de aço que era para ser um Shopping do Automóvel e hoje ainda ‘astravanca’ a Avenida Leste Oeste com o horrendo espetáculo cotidiano.
    Ou a UEL que compra “vai saber por que” um prédio desativado de uma distribuidora falida de medicamentos e instala o seu arquivo em local privilegiado para um prédio novo, bonito e inovador.
    A cidade de Londrina é brega, tal qual o prefeito Cantinflas que possui, sobrinho querido do Jeca Tatu Tio Bila, que apensa gosta de um populismo rastaquera.
    Sugestão: coloquem temporariamente telas de proteção de fachadeira (tipo as que são usadas na construção civil de 50 metros de comprimento) de um lado e de outro do Bosque, impossibilitando o pouso noturno das pombas por um determinado período – 30 a 60 dias ou o período da reconstrução e remodelação da. Elas encontrarão outro local para o pouso noturno e deixarão o Bosque em paz.
    Aí vão lavando, limpando, melhorando, higienizando e deixando a vida novamente se recuperar na Flora, já que a avifauna transformou-se em depósito noturno de dejetos de pombas.

    http://www.tegape.com.br/atuacao_interna/id/72/tela-de-seguranca–fachadeira-?gclid=EAIaIQobChMI2LfKpOL75QIVDYWRCh1Nkw36EAAYAiAAEgIr8vD_BwE

  4. Pomba é transmissor de doenças

    São Paulo – exemplo

    https://www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/secretarias/meio_ambiente/noticias/?p=233137

    https://www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/secretarias/meio_ambiente/servicos/fauna/index.php?p=202300

    Sem dó:
    http://www.ra-bugio.org.br/ver_especie.php?id=714

    É provável que esteja deslocando a rolinha-roxa ( Columbina talpacoti ) nas cidades. Muitos têm observado um declínio na população da ultima espécie e um aumento visível na população da pomba-de-bando.

    https://diariodonordeste.verdesmares.com.br/editorias/metro/pombos-representam-ameaca-para-a-saude-1.1953106
    os pombos se adaptaram e, hoje, são pragas que representam graves ameaças.

    “A Criptococose é causada por um fungo e encontrada nas fezes dos pombos, e é uma doença que pode ser bem grave. Ela se manifesta como uma pneumonia grave, causando tosse, febre e falta de ar. Em pessoas com deficiência de imunidade, pode causar uma doença disseminada, com sangramento e queda de pressão, podendo levar a óbito”, explica o infectologista Roberto da Justa, professor da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Ceará (UFC).

  5. Paulo

    NOSSA quanta besteira, esse aí divagando e a população que mora no entorno sofrendo. Vamos deixar de poesia e criar soluções e não só obstáculos, ou será que só tem io bosque para ter arvires e as pombas habitarem?

  6. ROGERIO DIAS

    A praça é um bem público de uso comum do povo (CC, art. 99, I).

    O espaço público decorre da interação do indivíduo com a cidade. Deve existir por meio de uma convivência harmônica entre estes elementos. Somente desta forma, o indivíduo poderá gozar desta prerrogativa fundamental.[1]

    Assentada a premissa, tem-se que a realização de feira ou apresentação musical em praça pública pode significar a limitação do núcleo essencial do direito ao espaço público, por comprometer sua destinação ao lazer, limitando suas condições de uso e prejudicando a liberdade e o bem-estar coletivo.

    Esses espaços públicos, para Paulo Affonso Leme Machado, não podem sofrer alterações que descaracterizem suas finalidades precípuas, que visam o lazer e a saúde da população. Assim, contrariam as finalidades públicas primárias desses espaços a construção de estacionamentos de veículos, autorizações para implantação de bancas de jornais, bares, ou a autorização de painéis ou de parques de diversões, mesmo que em caráter temporário.[2]

    Hoje, muitas praças públicas descaracterizam sua imagem e comprometem a sua função principal: proporcionar lazer à população, pois são utilizadas para feiras ou usadas como extensão de bares. O comércio deve ser bem visto para o progresso da cidade, mas deve desenvolver-se com sustentabilidade.

    A praça é construída com base no interesse público. Logo, há de se observar, sempre, a finalidade do ato administrativo, sob pena de se desviar do seu fim prcípuo: o bem-estar comum.

    “A praça é do povo; como o céu é do condor”, já dizia o poeta Castro Alves.

    Obs: “silvieira dias, advogado”

    Sendo praça ou sendo APP, arvores deve ter, então as pombas vão continuar habitando, por isso, solução inócua, tempo perdido, trocar de nome ou categoria de patrimônio não resolve o destino das pombas.

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