A Delação compensa todos os crimes, é a mensagem da Operação Publicano

Por José Pedriali

O auditor da Receita Estadual Luís Antônio de Souza (foto) foi flagrado em janeiro de 2015 num motel de Londrina com uma menina de 15 anos.

Só isso (só?!) já era o suficiente para deixá-lo alguns anos atrás das grades.

Mas era apenas a ponta do iceberg: ele estava com 20 mil reais em dinheiro e foi identificado como membro de uma organização que explorava sexualmente menores.

O caldo entornou, pois o flagrante se deu porque o Gaeco (MP e polícias civil e militar) o investigava por corrupção na Receita.

Crimes sexuais em série – incluindo estupro de vulnerável – e corrupção das grossas: condenação na certa, e pesada!

O que ele fez? Arranjou um advogado astuto, Eduardo Duarte Ferreira, e começou a dedurar mundos e fundos em troca da impunidade.

A delação atingiu dezenas de fiscais, contadores, empresários e o governador Beto Richa.

Tinha início a estrondosa Operação Publicano.

Como Richa entra nessa história? Na condição de coadjuvante, apontado como beneficiário do esquema de corrupção montado pela “organização criminosa da Receita”, que abasteceu suposto caixa dois da campanha pela reeleição do tucano.

O que havia de indício ou prova? O recibo da compra de divisórias de compensado para o comitê eleitoral londrinense de Richa. Valor: 3 mil reais, não declarados na contabilidade da campanha.

Quem autorizou a compra, o governador? Não, a compra foi ordenada pelo chefe de Souza, Márcio Albuquerque, que  prometeu, segundo ele, repor o dinheiro.

O caso ganhou repercussão nacional, e Richa foi associado a tal “organização criminosa”.

A delação foi homologada. A Justiça comprometeu a soltar Souza alguns meses depois, passando para prisão domiciliar e relaxando-a gradativamente. O perdão abrangeu os crimes sexuais – e ele respondia a mais de 20 processos!. Souza teve de entregar parte do patrimônio obtido com a corrupção. Um patrimônio milionário.

Pouco tempo depois, Souza foi flagrado extorquindo empresários em troca de seu silêncio, crime que, segundo o MP, envolveu seu advogado. Os benefícios da delação foram suspensos, cogitava-se em revogá-la, o que seria desastroso para a Publicano, pois sem as informações de Souza o castelo de areia ruiria. E então delator e advogado acusaram que depoimentos do réu não haviam sido gravados e, pior, adulterados. Pânico no Ministério Público! E agora?

O achaque deu mais certo do que o que Souza fizera ao empresário para manter silêncio, pois, em vez de punição, voltou a ter a indulgência plenária na linha do horizonte, bastando para isso entregar mais um imóvel à Justiça. E ele “esqueceu” de denunciar os investigadores pela adulteração…

Dois anos e meio depois da eclosão do caso, sabemos pela Folha de Londrina que Souza, em regime de prisão domiciliar, foi autorizado a se mudar para o litoral paranaense por motivo de “foro íntimo”. Logo, logo vai estar se esbaldando nas areias das praias paranaenses…

A Publicano está na enésima fase, as duas primeiras remetidas ao STJ por envolverem o governador. E contadores, empresários e fiscais foram condenados – um deles a quase um século de prisão. Alguns fiscais alegam que foram punidos com base unicamente nas delações de Souza. Exasperado, um deles filmou a movimentação dos promotores diante do Gaeco e acabou detido.

A isso se soma a misteriosa não inclusão no processo de um contador apontado como sócio de um dos promotores… A Corregedoria do MP abriu inquérito. O caso tramita sob sigilo.

A corrupção precisa ser combatida, duela a quien duela. Mas o combate tem de ser sem espalhafato e de forma eficiente.

A Operação Publicano montou um cenário dantesco com as informações de um criminoso confesso, capaz de reincidir no crime mesmo preso,  Que, de todos os envolvidos, é o único contra o qual não há dúvida de sua culpabilidade. Está a um passo da liberdade plena – e continua rico.

O esforço da Gaeco não foi em vão: sim, havia corrupção na Receita, a ponto de o governo do Estado multar os sonegadores em mais de um bilhão de reais. Mas a afoiteza em aceitar a versão de um bandido pode comprometer boa parte do trabalho, desacreditar a instituição e deixar como lição que o crime compensa se, uma vez flagrado, for acompanhado de uma delação bombástica – mesmo que fantasiosa.

E como compensa!

José Pedriali é jornalista e escritor

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3 Comments

  1. Dick

    Tanta verborragia só pra defender o governador tucano…

  2. Ghost Arabian

    Ministério Público Estadual do Paraná desconsidera o crime hediondo de pedofilia e rufianismo e passa a defender os interesses de mídia imediata de alguns promotores.
    Vergonha.
    E aí?
    Dá para acreditar neste ministério público que perde 1 bilhão de reais dos Belinatis e agora este peixe graúdo da corrupção?

  3. sandro augusto dos santos

    No mês de agosto este cidadão estava no aeroporto de Londrina, todinho sorridente, juntamente com a sua família. Fiquei indignado com a presença dele naquele local público, sabendo que cometeu vários crimes de corrupção e pedofilia e encontra em liberdade e sorridente. Um absurdo. Deu vontade de gritar em voz alta para todo o público e anunciar em era aquele cidadão. Estava usando tornozeleira.

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