”Gasto com educação eleva padrão de vida”

Se o Brasil investir apenas 1% a mais, a cada ano, do seu Produto Interno Bruto (PIB) em educação básica, o padrão de vida médio da população poderá aumentar até 26% nos próximos 50 anos. Os dados são de um levantamento recente publicado por pesquisadores da Fundação Getúlio Vargas (FGV). “A educação é um investimento de longo prazo, cujos efeitos sociais e econômicos se tornam um patrimônio daquela sociedade. Basta olhar para os exemplos da Suécia ou da Coreia do Sul, países que evoluíram apostando no ensino”, diz um dos coautores da pesquisa, Samuel Pessôa, pesquisador sênior associado do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre), da FGV.

Os economistas observaram os efeitos dos recursos para a educação no País entre 1933 a 1985. “O investimento em capital humano por meio da oferta de educação primária não fazia parte da estratégia na época. Ao longo do século, por meio de sucessivos ciclos de democracia e autoritarismo, a negligência em relação à educação persistiu”, lembra o também coautor, Edmilson Varejão, diretor executivo da startup AI Consult. Em valores correntes, o PIB de 2019 foi de R$ 7,3 trilhões. Para este ano, o Banco Mundial espera queda de 5,4%. Segundo Pessôa, considerando-se o patamar atual do Brasil, o aumento progressivo dos investimentos com educação poderia igualar, em três décadas, o padrão de vida ao dos portugueses.

Exemplo local.
“Isso é possível, com a universalização da educação básica. Exemplos como o do Ceará devem ser aplicados em todo o País. Dá para imaginar que, nos próximos anos, os cearenses vão ter um surto de desenvolvimento fruto da educação, que poderia estar ocorrendo em outros Estados.” Os economistas apontam, ainda, que investir na educação 2% do que o País produz por ano levaria a um aumento de quase 32% na produtividade. Para as empresas, a baixa qualificação média do brasileiro e o contingente de desempregados são motivos de preocupação. No ano passado, o índice de bem-estar brasileiro, medido pelo PIB per capita, era de R$ 34,5 mil. Ao se considerar a produtividade, o País também vai mal. Entre 1995 e 2018, esse indicador aumentou apenas 1%, também segundo a FGV. Uma estimativa da Confederação Nacional do Comércio, de Bens, Serviços e Turismo (CNC) aponta que, para absorver o contingente de desempregados mais aqueles que devem entrar no mercado nos próximos anos, a economia teria de crescer cerca de 3,5% ao ano até o final da próxima década. “Dado o atual nível de produtividade e o desempenho econômico esperado para os próximos anos, o Brasil não deve conseguir absorver todos os desempregados durante as últimas crises”, diz o economista-chefe da CNC, Fabio Bentes. A entidade projeta que a taxa de desemprego, de 14,4%, só deve cair com a reativação da economia combinada com o aumento da produtividade.

Vida melhor.
Do ponto de vista do trabalhador, anos a mais de estudo melhoram a remuneração e as condições de trabalho. Dados da Pnad Contínua apontam que a diferença de rendimento médio com o trabalho entre quem não concluiu o ensino fundamental e aquele que terminou uma graduação chega a quase R$ 4 mil. Além disso, os trabalhadores menos instruídos foram os que mais perderam rendimentos por conta da pandemia do novo coronavírus: eles deixaram de receber de 25% a 18% entre maio e julho, segundo cálculos da consultoria IDados, a partir de dados da Pnad Covid, pesquisa que o IBGE tem feito durante os meses de pandemia. No caso do analista de produção Mauro Conceição, de 57 anos, ter sido o primeiro da família a terminar um curso universitário fez toda a diferença. Trabalhando enquanto concluía administração de empresas na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUCSP), no início da década de 1990, ele viu seu padrão de vida mudar completamente. “Era uma rotina pesada, tinha de conciliar o trabalho com a faculdade, mas isso rendeu muito para a nossa família. Na época, ter o ensino médio já não era um diferencial nem impressionava os chefes. Eu tinha de me esforçar para estudar e trabalhar ao mesmo tempo ou me acostumar a ver só os colegas de trabalho conseguindo avançar na carreira”, lembra. Foi a formação que permitiu que os filhos de Conceição pudessem concluir os estudos antes de entrar no mercado de trabalho. Seu filho mais velho, Matheus, de 24 anos, pôde estudar Comunicação em uma universidade pública e agora tenta uma vaga de trainee em grandes empresas, como Magazine Luiza. “A história da minha família é exceção, ainda mais quando se pensa em uma família negra. O meu pai ter concluído uma faculdade, há 30 anos, já foi o suficiente para mudar a minha vida e a dos meus dois irmãos. Se a gente pensar nas pessoas que conseguem entrar em uma faculdade agora, muitas por causa das cotas, dá para imaginar quantas famílias podem ser transformadas”, diz Matheus.

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2 Comments

  1. Anubian

    Se volume de investimento fosse sinônimo de qualidade de serviço nós teríamos um dos melhores congressos e serviços públicos do mundo.

  2. Satanás

    Eleva, sim, mas demora. Muito mais rápido é se eleger um membro do legislativo, nomear um monte de funcionários fantasmas e ficar com salário desses funcionários. Se forem da mesma família, dá até pra nomear um gerente (se for da milícia é até mais seguro) e todos da família ficarão milionários. E os idiotas continuarão votando nesses novos milionários igualmente incultos mas espertos.

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