Lava Jato chega ao coração (ou intestino) da “República do Paraná"

Do José Pedriali

A prisão de André Vargas e do publicitário Ricardo Hoffmann, efetuada hoje pela PF no bojo da Operação Lava Jato, ressuscita essa reportagem da Exame, de 2009 (assinada por Malu Gaspar), sobre a participação de então ilustres petistas do Paraná num esquema de desvio de verbas da Caixa Econômica por meio de seu setor de comunicação. Além de Vargas, a suspeita recaía sobre o ex-prefeito de Londrina Nedson Micheleti. A ela:

A diretoria da Caixa Econômica Federal vive dias de tensão. Circula entre diretores do banco um dossiê atribuindo a um grupo conhecido internamente como “República do Paraná” o controle (e o mau uso) das verbas de publicidade da instituição. A tal república seria formada pelos petistas André Vargas, que é deputado federal, e Nedson Micheleti, ex-prefeito de Londrina e funcionário de carreira da Caixa. Ambos são ligados ao ministro Paulo Bernando, que também é petista e paranaense. Vargas, inclusive, foi coordenador da campanha de Gleisi Hoffmann, mulher de Bernardo, à Prefeitura de Curitiba. (E depois ao governo do Paraná, mas foi defenestrado porque veio à tona sua ligação com o doleiro Yousseff – a observação é do blogueiro.)

O documento afirma que os políticos comandam o superintendente de comunicação e marketing, Clauir Santos, responsável pela aprovação das campanhas publicitárias do banco. Afirma também que o grupo tem uma ligação especial com outro personagem, o publicitário Ricardo Hoffmann (foto) – que, apesar da coincidência de sobrenomes, não é parente da mulher do ministro. Hoffmann é chefe do escritório brasiliense da BorghiErh/Lowe, uma das três agências que ganharam, no ano passado, a conta de publicidade da Caixa, um contrato de 260 milhões de reais. É a BorghiErh/Lowe que faz, por exemplo, as campanhas das loterias, que só neste ano já consumiram 40 milhões de reais.

A assessoria de imprensa da Caixa diz não ter conhecimento do dossiê e afirma que a contratação da BorguiErh/Lowe foi feita por licitação pública. Mas fiquei curiosa para saber mais sobre os personagens envolvidos. O que descobri: o ex-prefeito de Londrina, Nedson Micheleti, foi condenado no ano passado, em primeira instância, à suspensão de direitos políticos e pagamento de multa por fazer publicidade indevida de sua gestão. Ele recorreu da decisão. Clauir Santos realmente foi indicado pelo PT do Paraná para a superintendência de marketing.

O publicitário Ricardo Hoffmann é gaúcho, mas atuou por muitos anos no Paraná, onde trabalhou na campanha de Roberto Requião a governador, em 1982. E a BorguiErh/Lowe, para onde Hoffmann se transferiu em 2007, teve uma ascensão impressionante nos últimos três anos. Em 2006, quando fundiu-se com a inglesa Lowe, era uma agência regional, pequena. Foi crescendo e, nos últimos 12 meses, passou de 15ª para a quarta maior agência do Brasil, segundo o ranking do Ibope Monitor. A agência conquistou a conta da Caixa há um ano, em setembro de 2008 (assim como a do UOL, da Knorr e da BIC, por exemplo).  Em agosto, a concorrência chegou a ser suspensa pela 3ª Vara Federal de Brasília, depois que uma agência derrotada, a Giovanni+DraftFCB, alegou ter havido favorecimento à BorghiErhLowe. Como as duas são ligadas à mesma multinacional, a Interpublic, a reclamação foi retirada 24 horas depois da decisão judicial. Procurado, Hoffmann não quis falar sobre o assunto.

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0 Comments

  1. ZANI

    Não vai sobrar nenhum(no Alphaville, caixa, BB,BNDE).
    Tem gente que deve ter mudado do Brasil.

  2. Toninho Pedregulho

    O blogueiro comissionado do governo mega-honesto e megacompetente do PR tem Google! Essa notícia é bem velhinha. De qualquer maneira, esse esquema denunciado é semelhante ao criado pelo PSDB em Minas Gerais, o famoso Mensalão Tucano. Será que a justiça brasileira vai julgar esse esquema da Caixa (se é que ele existiu como está sendo noticiado) antes de julgar o Mensalão Tucano, que aconteceu 5 anos antes do já julgado mensalão do PT?

  3. Carlos Marques

    Esse caso chegou na hora!!! Assim ninguém vai ficar sabendo que o delator Carlos R. Costa mudou a delação. E agora, meritíssimo? O Paulo R. Costa, que está sossegadinho em casa, falou que o dinheiro que foi para os partidos era dos lucros das empresas. E agora, meritíssimo? Não existe mais sobrepreço nos contratos com a Petrobras. Assim, o dinheiro honesto não foi só para o PSDB, foi também para o PT, PMDB, PP… A Dilma está certa! A campanha dela e do Temer não foi feita com dinheiro ilegal.

  4. Triste Londrina

    Vai sobrar para o Nedson? Aguardando ansiosamente….

  5. Indalécio Joacir Sampaio Nunes Malassisse de Carvalho Belacodid Madruga

    É, a batata do PT tá ficando incinerada!!!!

  6. Bélico

    Será que o André volta mais cedo pra casa (e com honras de herói) se ele delatar o Lula e a Dilma?

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