MP do Paraná: seria vergonhoso, se não fosse trágico

Da Ruth Bolognese, no Contraponto –
A harmonia entre os três Poderes no Paraná – Executivo, Judiciário e Legislativo – foi saudada pelo governador Beto Richa, nessa semana, como sinal de alinhamento democrático contra o caos político que atinge o Rio de Janeiro. Parecia feliz o governador e com toda a razão.

No coração da Lava Jato, a maior operação contra a corrupção realizada na história do país, ele sequer foi chamado ainda a se explicar pelo desvio de R$ 30 milhões, que seriam destinados a reformas e construção de escolas públicas em todo o Paraná. É a chamada “Operação Quadro Negro”, instaurada pelo Ministério Público do Paraná.

As evidências, colhidas em depoimentos e em delações dos envolvidos, provas e gravações em vídeos dão conta que, além do próprio governador, outros 3 integrantes dos poderes Executivo – chefe da Casa Civil, Valdir Rossoni – e do Legislativo, presidente da Assembleia Ademar Traiano e seu primeiro secretário, deputado Plauto Miró Guimarães – seriam responsáveis pelo desvio.

Tudo comprovado pelo meticuloso trabalho do promotor Carlos Alberto Choinski, durante quase três anos, que ingressou com ações cíveis e denunciou algumas autoridades, dentre as quais os deputados Valdir Rossoni e Plauto Miró Guimarães. Só não foi adiante porque, pela Lei Orgânica do MP, apenas o procurador-geral, Ivonei Sfoggia, detém a prerrogativa de processar o governador Beto Richa e o presidente da Assembleia, deputado Ademar Traiano.

Foi a partir daí que entrou a “harmonia” entre os poderes à qual se referiu, orgulhoso e feliz, o governador Beto Richa. O Procurador Geral, Ivonei Sfoggia, ignorou a prerrogativa que lhe garante a função e, num desvio de rota, afastou o promotor Choinski das investigações cíveis e deu o passo decisivo para enterrar a chamada “Operação Quadro Negro”.

Nem o governador Beto Richa, nem seus três homens de confiança serão chamados a explicar o desvio do dinheiro público. E a “harmonia” entre os poderes no Paraná se consolidou. Sem surpresas, com suavidade.

Ontem, depois de quase dois meses da decisão do Procurador Geral, saiu no Diário Oficial a resolução sobre o afastamento do promotor Choinski da Operação Quadro Negro. É apenas a parte formal. Na prática, o promotor tirou férias e no retorno, já sabia que estava totalmente desligado das investigações.

A postura do Procurador Geral, Ivoney Sfoggia, ao interromper um processo de tal importância para o combate à corrupção no Paraná em nome da tal “harmonia” entre os poderes, pode ser vergonhosa, do ponto de vista de zelar pelo patrimônio público do Paraná. Mas é muito mais grave – e trágica – porque fere gravemente o princípio fundamental do MP: a autonomia dos seus membros, conforme prevê a própria Constituição e a Lei Orgânica Nacional.

Diante de uma demonstração de desobediência formal, oficial, do próprio Procurador Geral, a favor de interesses dos poderes Executivo e Legislativo, instala-se imediatamente, e consequentemente, a insegurança entre todos os membros do MP do Paraná. E nada mais frágil – e mais perigoso – para a verdadeira harmonia entre os poderes do que um MP amedrontado.

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3 Comments

  1. Geraldao

    O trabalhador não tem vez no blog???

  2. Dick

    A dona Ruth Bolognese poderia ter concluído que a justiça do Paraná é assim porque ela é irmã gêmea da justiça paulista. Ou ela não sabe que não existe cana para tucano paulista e paranaense? Epa! Para nenhum tucano… Alguém soube de algum tucano preso por causa daquele mensalão que funcionou cinco anos antes do mensalão petista?

  3. Sergio Silvestre

    Se existisse mesmo “justiça para todos como aquele filme mentiroso do Moro,o Beto Richa,(CABRAL DO PARANÁ)estaria agora atráz das grades por roubo de dinheiro publico ,e olhe que não é de hoje e seria bom que essa PF fajuta investigasse sua fortuna pessoal,o quanto foi adquirido nesse anos todos e como isso aconteceu.O BRASIL É DOS LADRÕES ,NÃO É DE GENTE DE BEM.

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