O Pastor, a Pandemia e a Espiral do Silencio – Uma releitura de Martin Niemoller

Por Mário César Carvalho

Martin Niemoller (1892-1984) foi um teólogo alemão com uma história para lá de inusitada. Na I Guerra Mundial comandou um submarino e com o fim do conflito decidiu estudar teologia, tornando-se, mais tarde, pastor luterano.

Com a ascensão do nazismo, em um primeiro momento, Martin ficou empolgado, mas, a medida que foi conhecendo quem de fato era o ainda Chanceler Adolf Hitler, rapidamente tornou-se o principal líder da oposição contra o novo regime que se instalava em seu país. Isto lhe garantiu um processo judicial e uma estadia de 7 anos em um campo de concentração de onde só saiu no fim do segundo conflito mundial.

Observador atento do seu tempo, em um dos seus célebres discursos, intitulado “E não sobrou ninguém” (equivocadamente atribuído à Bertold Brecht ou Vladmir Maiakovski), Niemoller fala de um momento na nova ordem política seu país quando determinados grupos da sociedade se calavam quanto às suas opiniões políticas por receio de acabarem isolados do convívio social sem que ninguém se importasse com esse tipo de censura. De acordo com o poema, o resultado desse processo foi que em algum momento o último personagem que sobrou, o narrador, que era um daqueles que nunca se incomodou com o silencio forçado imposto aos outros, acabou também por ser censurado, pelo simples fato de que, como todos haviam sido calados ele já não tinha mais ninguém para quem pudesse expor a sua opinião.

E não sobrou ninguém

Primeiro levaram os comunistas,
mas eu não me importei com isso
eu não era comunista;
Em seguida levaram os sociais-democratas
mas eu não me importei com isso
eu também não era social-democrata;
Depois levaram os judeus
mas como eu não era judeu
não me importei com isso;
Depois levaram os sindicalistas
mas não me importei com isso
porque eu não era sindicalista;
Depois levaram os católicos
mas como não era católico
também não me importei com isso;
Agora estão me levando
mas já é tarde
não há ninguém para se importar com isso

Em meados dos anos de 1970, a cientista política, Elisabeth Noelle Newmann, também alemã e também atenta à sociedade do seu tempo, observando o processo eleitoral em seu país formulou a Teoria da Espiral do Silêncio, na qual afirmou que quando uma opinião é majoritária em uma sociedade, as pessoas tendem a expressá-la mais abertamente, pela sensação de que se é majoritária, então é verdadeira. Já quando a opinião é minoritária, por ser minoritária não é tomada como verdadeira e então as pessoas tendem a silenciar sobre ela por medo de serem isoladas socialmente. Para a autora o resultado dessa equação é que a política sempre vai querer fazer crer que determinados discursos, especialmente os seus, refletem a opinião da maioria e, por isso, representam o que é verdadeiro, o que nem sempre é real.

Em tempos de pandemia, de isolamento social seletivo, cancelamentos nas redes sociais e novos adjetivos para desmerecer e calar as opiniões diferentes, é bem possível uma releitura do poema de Niemoller:

Primeiro eram os comerciantes e comerciários em geral,
mas não me importei com isso
eu não era comerciante e nem empregado do comércio;
Em seguida eram os empresários do setor de eventos
e todos aqueles que viviam dessa atividade
mas não me importei com isso também
eu também não era desse setor;
Depois os frequentadores dos bosques e parques,
de verdade eu não me importei porque sou sedentário
Depois eram os jovens festeiros
mas como eu não sou jovem e nem gosto de baladas
também não me importei com isso;
Depois eram os peladeiros
mas não me incomodei com isso
porque como sedentário eu nunca joguei futebol;
Depois eram os religiosos e fiéis
mas como sou ateu
nem dei bola;
Agora são os donos de escolas
e todos aqueles que sobrevivem dessa atividade.
Não estou nem aí
porque não sou dessa turma;
Daqui a pouco, quando começarem a dizer que sou eu o responsável por tudo
será tarde demais porque
não haverá mais ninguém para se importar comigo.

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5 Comments

  1. Décio Paulino

    Bobagem. Releitura do texto do pastor luterano perseguido pelo governo nazista coisa nenhuma. Apenas uma cópia de sua estrutura. O texto do pastor passa a lição de que o silêncio dos cidadãos foi o caminho do crescimento do governo autoritário, belicista, genocida (Será que temos algo semelhante ocorrendo por aqui?) de Hitler. Não existe comparação entre o que ocorreu na Alemanha nazista com o que está ocorrendo no Brasil com a pandemia. A pandemia está espalhando democraticamente seus malefícios (poucos vão sair incólumes dela; com algum lucro, menos ainda) porque temos muitos governantes ignorantes, estúpidos, incompetentes, negacionistas, que colocam o dinheiro acima da saúde e da vida do povo. Por que a pandemia está atingindo o nosso povo e a própria economia do país de forma tão agressiva? Porque escolhemos esses governantes incapazes de enfrentarem o vírus, de comandarem uma luta vitoriosa contra o vírus. Ao contrário, sua ignorância diante do que ensina a ciência a respeito da doença só fez crescer os doentes e mortos. E sejamos justos, se não fosse o governador de São Paulo e a luta de cientistas brasileiros em defesa da vacina, certamente nem ela teríamos no Brasil já que o genocida de plantão em Brasília não se cansou de espalhar receitas milagrosas e fazer a propaganda da imunização de rebanho pela contaminação em massa do coronavírus. E Londrina está infestada por gente que pensa igualzinho o capitão Corona. E isso não tem nada a ver com a luta do pastor luterano contra o nazismo.

  2. Satanás

    Peraí! O poeta se esqueceu que os comerciantes já tinham a seu favor poderosas e ricas associações comerciais e sindicatos patronais? O comércio e a indústria pararam por pouquíssimo tempo. Estão aí faturando há muito tempo e seus empregados se infectando em ônibus lotados diariamente. E o que o poeta quer mais: eventos bombando, peladas sabadeiras para satisfazer os boleiros, igrejas lotadas para garantir o dindim na sacolinha e o pagamento do dízimo, escolas com a molecada nas salas de aula com as matrícula$ garantida$. Esse é o poeta do coronavírus. Quá! Quá! Quá!

  3. Anubian

    Sempre que penso na turma do “a economia a gente vê depois”, lembro das celebridades incentivando o #FiqueEmCasa de dentro de suas mansões com academias, piscinas, bibliotecas, cinemas particulares – isso quando as celebridades não resolvem se mandar para o exterior ou para uma ilha particular.
    Também me lembro de algumas figuras que conheço pessoalmente. Servidores públicos que foram pro Home Office sem perder um centavo do salário, que têm tudo o que precisam na palma da mão – é só pedir delivery de compras e um iFood quando quer uma janta diferente. Se dizem estarrecidos diante da “imprudência” do povo, da avareza dos pequenos comerciantes.

    São pessoas privilegiadas que vivem numa realidade completamente alheia ao da do brasileiro médio, ou ainda, dos brasileiros nas camadas mais vulneráveis da sociedade – gente que perdeu boa parte da renda vivendo em casas pequenas compartilhadas com muitas pessoas, casas essas que passam a ficar ainda mais apertadas quando ninguém trabalha. Privilegiados que trabalham de casa, ou cujos trabalhos não sofreram nenhum revés por questão logística, que não foram impedidas de trabalhar, que não produzem nada.

    Quanto ao militante comentarista, não tenho dúvidas que é um desses privilegiados. E que ainda presta um desserviço ao comparar o Bolsonaro com Hitler. Bolsonaro é um cara tosco, um político medíocre que não tinha e não tem brio para o cargo que ocupa. Mas compará-lo com um dos maiores genocidas da história da humanidade é um tremendo desfavor. A militância acha que ao fazer isso está transformando o Bolsonaro e seus apoiadores em monstros, mas na verdade o que fazem é amenizar o peso do que foi o nazismo. Hitler desumanizou os judeus, criminalizou legalmente e moralmente sua existência e os mandou para campos de extermínio. O Bolsonaro não tirou um direito de ninguém, não criminalizou nenhuma conduta, não criou esquadrões de extermínio, nada. Ao comparar os dois, uma das coisas que pode ficar implícita é que, talvez, o Hitler tenha sido só um presidente incompetente.

    1. Décio Paulino

      Meu amigo, dê ao Bolsonaro o poder que os alemães deram ao Hitler e você conhecerá quem o presidente realmente pode ser. Não foi Bolsonaro que disse que FHC deveria ser fuzilado? Não foi Bolsonaro que disse que petistas deveriam ser metralhados? Não foi Bolsonaro que afirmou que a ditadura matou poucos adversários, deveria ter matado uns 30 mil numa guerra civil? Sorte nossa que Bolsonaro no Brasil não tem o apoio político e o poder econômico que o nazismo teve na Alemanha de Hitler. Mas voltemos ao maior mal que está nos afligindo no momento: a covid-19. Meu amigo, a política de adesão ao coronavírus pelo governo federal só nos tem levado vidas, provocado despesas hospitalares astronômicas e prejuízos financeiros à maioria da população. Inclusive a mim, meu irmão. Vamos comparar esse governo genocida com o governo da Austrália, por exemplo. Se não tiver preguiça de ler uma notícia do Estadão, leia o artigo “Austrália coloca 2 milhões de pessoas em lockdown após 1 (UM, apenas UM, UM único, destaque meu obviamente) caso novo de covid”. Isso foi em Perth recentemente, mas o mesmo já ocorreu em Brisbane e Sidney. O resultado é que a covid matou na Austrália 909 pessoas enquanto no Brasil estamos pertos de atingir 230 mil mortos. E os prejuízos econômicos na Austrália são proporcionalmente muito menores do que no Brasil. Aqui em Londrina com seus 500 e poucos mil habitantes, podem morrer 10 pessoas num único dia ou aparecerem 300, 400 novos casos de contaminados pelo coronavírus que os bolsonaristas não estão nem aí. Sorte dos australianos de terem um governo humano e competente, não um governo genocida, incompetente e cheio de gente estúpida.

  4. Alisson

    O autor desse texto usurpado e fora de contexto é um sem caráter. Querer associar uma medida necessária para salvar vidas com o nazismo é de muito baixo nível.

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