O Voo do Teatro de Bela Vista do Paraiso

Por Nilson Monteiro

Paralelamente ao Teatro Geraldo Oliveira reabrir suas portas, em Bela Vista do Paraíso, no dia 16 este mês, se pode abrir as páginas do livro “14-Bis paranaense”, que conta a história desta casa que deu alma e vida à então cidade encardida de roxo e rica de café, nos anos 1960, do Norte do Paraná.

A linguagem da publicação é objetiva e clara (chega a ser didática), como preveem os manuais de jornalismo, seguidos à risca pela autora, jornalista Larissa Grizoli. Não por coincidência.

O toque poético, e mágico, ficou por conta do escritor Miguel Sanches Neto, bela-vistense, autor da apresentação do livro, a ser distribuído pela entidade patrocinadora, Sesc-PR.

O porquê do nome é pleno de significado: 14-Bis porque remete ao avião revolucionário de Santos Dumont e porque o teatro foi construído copiando seu formato para servir de espaço cultural em uma pequena cidade encravada no sertão do Norte do Paraná, uma década depois de Londrina haver inaugurado, em pleno apogeu da cafeicultura, o Cine Teatro Ouro Verde.

Mas, a história começa no início da história.

Bela Vista do Paraíso tem este nome de porção algo celeste porque nasceu de outros nomes igualmente algo divinais: das fazendas Floresta Ribeirão Vermelho, matas do lado esquerdo de uma trilha de barro roxo (de propriedade do casal João Galdioli e Maria Palmieri Galdioli), e Paraíso, matas do lado esquerdo, transformadas em um dos maiores cafezais do estado (que pertenciam a Brasílio Araújo).

A Ribeirão Vermelho virou Bela Vista. E a Paraíso, continuou. Juntas…

Este núcleo que juntou muita gente devido ao aroma e aos lucros do café sentiu falta, no final dos anos 1950, de um lugar para iluminar a alma de seus moradores, de fazendeiros a colonos, de comerciantes a religiosos, de professores a ferreiros, de cartorário a delegado e, saibam, de atores a cantores, de uma cidade que acabou, por sua conta, risco e independência, criando o Teatro Bela Vista de Comédia.

Um punhado de gente se juntou para construir, comunitariamente, seu teatro. O desenho de seu formato promove controvérsias: há quem diga que o autor foi de Araldo Capillé, ex-prefeito da cidade e membro do TBVC; outros que a autoria é do agente de seguros Antônio Guilherme Torres. Ambos estão na história.

Além do pioneirismo para abrir picadas e levantar cidades, o “pé vermelho” exibiu, naquela época, seu denodo em cultura. A biografia de Geraldo Oliveira, que empresta o nome ao prédio, é humanamente rica e mostra isto. Assim como a de Gecy Fonseca, espécie de guardião da história do município. Não menos que as dos Galdioli ou de Araújo, que, aliás, virou corrente: Araújo Filho, Neto…

Fato é que o teatro foi inaugurado com a apresentação de nada mais nada menos do que “O auto da compadecida”, de Ariano Suassuna, em 1963, com o então vendedor de sapatos Emílio Pitta entre os atores, transformando-se em espaço múltiplo e efervescente. O local era sede de eventos teatrais, claro, mas igualmente de outras atividades sociais, recreativas, escolares, religiosas e políticas.

Ao longo dos anos, pela decadência econômica causada especialmente pelo fim da cafeicultura, por descaso dos homens e rasuras da história, o 14-Bis espatifou-se, virou depósito de lixo e demonstração de pobreza.
Virou nada, em referência histórica morta.

O novo ato começou novamente com a mobilização comunitária, especialmente a política, e desaguou na sensibilidade de Darci Piana, presidente do Sesc-PR., que já havia tido arrojo e recursos para outras demonstrações da mesma natureza: reconstruíra alguns imóveis patrimônios históricos do Paraná (Paço da Liberdade, em Curitiba; Cadeião, em Londrina; Hotel Cassino Iguaçu, em Foz do Iguaçu, e Estação Saudade, em Ponta Grossa), transformando-os em unidades culturais e devolvendo-os para novos usos da população. Em tempo: Piana é também membro da Academia Paranaense de Letras.

Desta cena de mobilização e cidadania, o 14-Bis, reconstruído, levantará voo novamente com o propósito não só de prestar homenagem àquele baixinho, de chapéu atolado e pai da aviação, mas à história de Bela Vista do Paraíso e à sua cultura.

O teatro mudou a história da cidade e pode transformá-la novamente. E o livro, escrito por Larissa Grizoli, com fotos históricas, é um belo aperitivo para o recomeço. (NM)

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Um comentário

  1. Márcio André Serafim

    Vc só errou o nome do Teatro, o certo é Teatro Geraldo Moreira

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