O Whats App e as tretas políticas

Lucas Carvalho/UOL

De Tilt, em São Paulo

A maneira como o WhatsApp se encaixa nas discussões sobre política no Brasil é o tema de um novo estudo do InternetLab (Centro de Pesquisa em Direito e Tecnologia). E o que a pesquisa descobriu foi que muitos brasileiros estão fartos de brigar por política pelo app. As eleições de 2018 foram as culpadas pelo sentimento de exaustão.

Entre aqueles que participam de pelo menos um grupo no WhatsApp, 72% dizem que evitam falar de política para fugir de brigas. E 63% dizem que usam memes ou outras mensagens de humor para evitar uma discussão mais séria quando o assunto é política.

2018 deixou marcas

A principal conclusão do InternetLab é de que as eleições de 2018 foram um divisor de águas na maneira como as pessoas enxergam o papel do WhatsApp no debate político.

“As eleições de 2018 foram um marco. As pessoas passaram a se policiar mais sobre o que elas falam. Algumas saíram de determinados grupos para evitar brigas. Outros grupos criaram regras para proibir mensagens sobre política”, explica Heloísa Massaro, coordenadora de pesquisa da entidade e uma das autoras do estudo.

Segundo o levantamento, 71% dos entrevistados responderam que mudavam de comportamento no WhatsApp quando o assunto era política — como, por exemplo, se policiando mais para evitar compartilhar fake news. Além disso, 50% dizem ter visto mudanças nas regras de grupos em relação ao que pode ser compartilhado desde as últimas eleições presidenciais.

Política que não é política

O estudo aponta contradições na maneira como os brasileiros encaram o que é “política” em conversas de WhatsApp. Apenas 10% dos participantes dizem participar de algum grupo sobre política, mas 67% afirmam estar em grupos de amigos e 65% em grupos de família. Nesses ambientes, conteúdo eleitoral corre solto.

Para mais de 65%, os grupos que mais falam sobre política são justamente os de família e de amigos. O número aumenta quando o termo “política” é trocado por “questões da sociedade”: mais de 70% dizem que os grupos com parentes e colegas são os mais ativos nesse quesito.

Apesar disso, 82% não participam de grupos de discussão política desde 2018. “O conteúdo político muitas vezes não circula explicitamente. A política circula muitas vezes como um conteúdo não-político. O humor é uma dessas formas”, explica Massaro, citando o uso de memes como uma estratégia que ganhou mais adeptos pós-2018.

É o que explica um outro dado da pesquisa: durante as eleições municipais de 2020, memes sobre política estiveram entre as mensagens mais recebidas (44% dizem ter recebido memes sobre eleições ou candidatos) e mais enviadas (28% compartilharam com seus contatos esses memes).

Uma das conclusões é que o recurso do humor “têm aderência nas diferentes classes sociais e faixas etárias, atingindo moradores da capital e do interior, tanto conservadores quanto progressistas.”

“A forma como as pessoas entendem os grupos dos quais elas participam e se comportam neles está relacionada com os papéis sociais delas fora do aplicativo”, acrescenta Massaro.

Para ela, o estudo demonstra que a disseminação de conteúdo político no WhatsApp, que muitos apontam ser responsável pelos rumos das eleições no Brasil, é muito mais complexa do que parece. “Alguém adotar uma estratégia de enviar conteúdos para X grupos ou X pessoas, por si só, não leva à disseminação do conteúdo. A forma como o conteúdo se dissemina se dá no momento em que essas táticas se chocam com os hábitos dos usuários e as regras dos grupos.”

O estudo completo pode ser conferido no site do InternetLab.

 

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Um comentário

  1. Gláucia

    Eu participo de um grupo no whatsapp sobre política, mas confesso que, muitas falas perdem a objetividade. De fato, ocorrem tretas.
    O subjetivismo atrapalha, tolhe qualquer possibilidade de desenvolvermos um debate mais coerente, mais objetivo, mais proveitoso sobre política, que contribua para nosso crescimento, fortalecimento e capacidade de participar ativamente da política.
    Acho fundamental o engajamento, o interesse pela política, somos parte dela.
    Se omitir, se manter em cima do muro, supostamente neutro, evitar o debate é prejudicial a nós mesmos.
    Talvez, seja um problema da democracia representativa, uma vez que você entrega ao outro, outorga ao outro o poder político e com isso, acabará se alijando dos processos decisórios no campo político. Ficamos com preguiça de pensar, participar, se engajar, se comprometer.
    Nos tornamos acomodados, um preço muito alto da democracia representativa.
    Por isso, há necessidade de um novo modelo de democracia representativa, onde a força popular esteja presente.

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