Para refletir: A direita voltou? Nunca saiu

Do Clóvis Rossi/Folha de São Paulo

A direita voltou ao poder com a ascensão de Michel Temer, certo? Errado. A direita jamais deixou o poder, muito menos no reinado Lula/Dilma.

Quem o diz é alguém de impecável militância esquerdista e assessor especial da Presidência até se desencantar com Lula e o PT.

Chama-se frei Betto e declarou o seguinte ao jornal “Valor Econômico” tempos atrás, antes que ficasse claro o tremendo fracasso da gestão Dilma (o timing é importante para que não se pense que abandonou o barco só porque fez água):

“No Brasil a esquerda jamais esteve no governo. E a direita nunca abandonou o poder.”

Para sustentar sua afirmação, Betto faz a comparação em que marca bem o que se associa à esquerda e à direita: “Em 13 anos de presidência, o PT não promoveu nenhum reforma estrutural. Investiu-se mais em facilitar à população acesso aos bens pessoais (celular, computador, carro, linha branca), quando se deveria priorizar o acesso aos bens sociais (educação, saúde, moradia, segurança, saneamento etc)”.

Se se quiser fulanizar a afirmação de que a direita nunca abandonou o poder, basta um nome, o de Henrique Meirelles. Como presidente do Banco Central nos oito anos de Lula, era o ministro da Economia “de facto”. Voltou ao cargo, “de facto” e ” de jure”, com Temer.

Se ser de esquerda significa preocupar-se com a igualdade, os governos do PT foram uma fraude. Só um dado basta para demonstrá-lo: em um ano, a “bolsa-juros”, que o governo paga aos portadores de títulos da dívida pública, em geral ricos, representa 15 anos da “Bolsa Família”, a que vai para os pobres.

Ou seja, as 14 milhões de famílias que recebem esta última precisam de 15 anos para ter o que as famílias ricas (talvez 5 milhões) abocanham em apenas um ano.

Só esse dado bastaria para desmontar a falácia de que melhorou a distribuição de renda no país. Mas há um precioso trabalho de três especialistas da UnB, dois deles também do Ipea, que prova que a desigualdade não diminuiu nadica.

Ao contrário, aumentou: a pesquisa de Marcelo Medeiros, Pedro Ferreira de Souza e Fábio Avila de Castro mostra que os 5% mais ricos, que tinham 40% da renda total em 2006, saltaram para 44% em 2012 (detalhes aqui).

Por fim a pobreza: o Brasil contava em dezembro de 2015 com 73.327.179 pessoas pobres – o que dá cerca de 36% de sua população total.

Está lá no site oficial do Ministério de Desenvolvimento Social ainda no tempo de Dilma Rousseff, ao informar sobre as famílias brasileiras de baixa renda – aquelas com renda mensal de até meio salário mínimo por pessoa.

Baixa renda é piedoso eufemismo para pobres ou, até, para miseráveis, posto que mais da metade dos cadastrados (38,9 milhões) tem renda de até R$ 77,00 (detalhes aqui).

São dados objetivos que comprovam a tese de frei Betto se se acredita que ser de esquerda é preocupar-se com pobreza e igualdade. O resto é propaganda enganosa de revolucionários de colunas de jornal.

Compartilhe
Leia Também
Comente

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Buscar
Anúncios
Paçocast
Anúncios