A Era da Comunicação Total

Paçoca Cultural  Por Álvaro Ferreira

O século XXI chegou trazendo profundas transformações sociais e econômicas em todo o mundo, tocadas a partir do surgimento, ainda nos anos 90, da rede mundial de computadores.

E chegou chegando.

Em 1999 viveu-se uma semi-paranoia , apelidada de bug do milênio. Havia um medo de que alguns computadores importantes, que controlavam aviões, maquinários sofisticados, grandes hubs de informações financeiras e bancárias, pudessem apresentar comportamento completamente desconhecido e até mesmo zerar sua contagem, ao se passar dos dígitos 1999 para 2000. Embora tenha se tornado uma grande fonte de risadas e alívio, uma vez que nada ocorreu de errado, o bug do milênio já mostrava a flagrante dependência da humanidade em relação a computadores e equipamentos digitais, às portas do novo século.

No primeiro momento, houve enorme entusiasmo com a chegada da Internet. Lembro-me, como se fosse ontem, quando vi – na sala de TI da empresa em que eu trabalhava, a Folha de Londrina – um PC carregando a imagem da “home page” do LSE, a London School of Economics and Political Science.

Eu, um caboclo do interior do Paraná, vendo na minha frente o sítio (na época era estranhíssimo pensar no termo “sítio” para designar o que ficou popular como “site” de Internet) de uma das maiores instituições de ensino universitário do mundo. E olhe que, para carregar a imagem com foto e logo da LSE, foram alguns minutos. Isso dava mais emoção ainda, ver os pacotes de dados montando uma informação visual, algo completamente novo para nós. Estou falando de 1996.

De lá para cá, quase tudo na Comunicação vem mudando de modo contínuo . O Jornalismo, a Publicidade, as Relações Públicas, a TV, o Rádio e o Cinema, todos tremendamente impactados com novidades tecnológicas, de processos de produção, distribuição e difusão de conteúdo, de formação de profissionais, de transformações empresariais. Empresas desapareceram ou foram engolidas por outras, mais ágeis e com melhor entendimento do que estava acontecendo (o caso da Kodak foi exemplo relevante desse momento). Outras surgiram e rapidamente alçaram o posto de super marcas da nova era digital. O Netscape, um “navegador de Internet” (ideia nova para aquele momento, uma ferramenta que tornava fácil acessar endereços na web) chegou, de forma muito rápida, a valer US$ 500 milhões nos EUA.

Meses depois, seu valor acabou despencando, até desaparecer pouco tempo depois, por conta da estratégia questionável de outra empresa que ia se cristalizando como a grande e poderosa marca da nova era digital: a Microsoft. Bill Gates, criador e fabricante do Windows, o software que fazia rodar o computador pessoal, novo sonho de consumo de dez entre dez pessoas no mundo ocidental, criou seu próprio navegador, o “Internet Explorer”, que vinha acoplado ao Windows, que por sua vez acompanhava os computadores pessoais comprados agora em lojas de departamentos.

Bingo!

Gates matou dois coelhos com uma cajadada só: destruiu a Netscape e avançou poderosamente no mercado, tornando-se o principal competidor de outro fabricante que se agigantava a cada dia, a Apple, fabricante dos computadores Macintosh.

Outras histórias interessantes passam pelo surgimento da Netflix, empresa criada para oferecer o serviço de entrega de fitas de vídeo para preguiçosos que alugavam as antigas VHS nas locadoras Blockbuster (outro negócio que deixou de existir por conta da digitalização), e que soube enxergar o futuro ao se tornar uma exibidora e produtora mundial de filmes e séries entregues via “streaming” (a novidade tecnológica que transformou radicalmente o mundo do cinema, da TV e da música). Ou o caso do site Yahoo, que teve a oportunidade de comprar um pequeno negócio que lhes foi oferecido no começo dos anos 2000, e atuava no mesmo segmento que eles. Um tal de Google. Não compraram.

Não é preciso explicar o que aconteceu depois disso.

Todo esse pano de fundo foi o cenário para o surgimento de outra revolução digital, que especialistas das novas mídias passaram a chamar de Internet 2.0. Me refiro à chegada das mídias sociais, sítios que possibilitavam às pessoas se comunicarem numa linha do tempo, todas vendo o que todas publicam. Ao mesmo tempo em que marcas como Facebook, Orkut, Twitter e YouTube surgem e arrebatam, de modo avassalador, uma enorme parte da audiência que ainda era maior nos media tradicionais, no começo dos anos 2000. Agora, um cidadão em Macapá-AP, ou em Vladivostok, na Rússia, pode acompanhar o que o seu artista ou político, o mesmo o seu vizinho, publicam na rede do momento. Em tempo real.

Agora sim, temos todo um ambiente (ou, pra citar o termo da moda, um ecossistema) ideal para a proliferação imediata de um novo fenômeno, o dos vírus culturais. Quando uma mensagem é passada milhares ou mesmo milhões de vezes, em questão de segundos ou minutos, de São Paulo a Osaka, de Paranavaí a Nova Iorque, temos o fenômeno das mensagens que “viralizam”.

Quebra da hegemonia dos mass media, mensagens que viralizam em minutos, cobertura universal, novos negócios atendendo a novas demandas de comunicação, cada vez mais complexas. Um novo ecossistema, destruindo empregos e empresas, e oferecendo o surgimento de milhões de novos empregos e novas empresas. empregos para os quais o mercado formador não estava preparado. Empregos que exigiram um novo profissional, com novos olhares e aptidões híbridas. Esse gigantesco movimento tecnológico, que surgiu ainda nos anos 80, com o computador pessoal, segue em pleno curso. Hoje, estamos no capítulo da Inteligência Artificial. Que nem é inteligência, nem é artificial. Mas isso é assunto para outra prosa.

Álvaro Ferreira é jornalista e publicitário

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