por Almir Escatambulo
Na esquina da Rua Bahia em Londrina, Dona Dolores, com sua sacola de feira e a paciência esgotada, discutia com o fiscal da prefeitura sobre a calçada esburacada. “Vocês não arrumam isso nunca!”, reclamava. O fiscal, educadamente, tentava explicar que a responsabilidade não era dele, mas do setor de urbanismo. Dona Dolores, ainda mais confusa, balançava a cabeça. Para ela, “prefeitura” era tudo a mesma coisa, um único organismo amorfo e ineficiente.
Essa cena, comum em muitos municípios brasileiros, ilustra uma falha crônica no conhecimento cívico: a confusão entre as diferentes esferas do serviço público. A maioria das pessoas sabe que há algo chamado “governo”, mas a distinção clara entre o que é federal, estadual e municipal se perde em meio à rotina e à burocracia.
O desconhecimento não é maldade, mas uma consequência da complexidade da máquina pública. O cidadão que precisa de um posto de saúde não se preocupa se o recurso veio do governo federal, se a gestão é estadual ou se a manutenção é municipal; ele apenas espera ser atendido. Quando o atendimento falha, a culpa recai sobre a entidade pública mais próxima: a prefeitura, o prefeito.
Essa falta de clareza gera uma série de problemas. O primeiro é a ineficácia da cobrança. Em vez de direcionar a pressão para a esfera correta, a população acaba reclamando no lugar errado. O problema na PR-445 (Estadual) é atribuído ao Prefeito, a demora na emissão de um passaporte (federal) é motivo para descer a lenha no Governador. A consequência é a inação, já que a queixa não chega a quem de direito.
O segundo problema é a desvalorização do serviço público. Muitas vezes, a imagem negativa associada ao serviço público é resultado de uma percepção distorcida. As pessoas generalizam a ineficiência de um órgão municipal para todo o funcionalismo. Ignoram o trabalho do pesquisador federal, do professor universitário federal, do policial civil (estadual) ou do agente de saúde (municipal). A falta de distinção transforma todo servidor em alvo de críticas, independentemente de sua atuação ou esfera.
Essa crônica cotidiana, com Dona Dolores e o fiscal, revela um desafio educacional e cívico. A solução não está em culpar o cidadão, mas em buscar formas de tornar a máquina pública mais transparente e compreensível. O serviço público, afinal, é a materialização do Estado para o cidadão, e o entendimento de suas esferas é o primeiro passo para uma participação mais consciente e eficaz.
1 comentário
Almir José
Tem vereador em Londrina que pensa no povo e não no próprio umbigo?