*Por Mário César Carvalho
Dia desses, em mais um momento de fraqueza pessoal, me peguei novamente lendo notícias na internet (“vício” que adquiri, nos tempos em que a redação da Folha de Londrina funcionava no primeiro andar do Edifício Bosque).
Entre uma matéria e outra dois casos me chamaram a atenção pela forma como foram escritos. Em ambos, os envolvidos eram dois cidadãos, adultos e independentes. Um deles estava sendo investigado por lavagem de dinheiro e o outro por ter se envolvido em violência doméstica contra sua ex-mulher. Até aí, nada de novo em se tratando de Brasil.
Mas, de repente, observei que sempre que os casos eram citados, acrescentava-se ao nome dos envolvidos um complemento. “Fulano de tal, filho do Presidente fulano de tal” fez isso. “Cicrano de tal, filho do ex presidente cricrano de tal” fez aquilo. Imediatamente pensei: As notícias são sobre os envolvidos ou sobre os pais deles?
Bem, a partir daí, “metido que sou” comecei a refletir sobre a questão da manipulação da informação e tomado pelo espírito da “rebeldia sem causa”, que há muito estava adormecido dentro de mim (desde os tempos do curso de história na UEL), já meio que me ”fazendo de besta” e confiante na amizade que tenho com um jornalista (também lá dos tempos da UEL), decidi provocá-lo questionando esse comportamento de grande parte da imprensa.
Foi aí que com um leve sorriso malévolo dentro de mim perguntei ao meu amigo: “As notícias são sobre os personagens ou sobre os pais deles”. Ele, muito esperto de pronto detectou a minha “provocação barata” e, como bom zagueiro que é, foi para dividida. Em geral argumentou que, mesmo que os fatos noticiados nada tivessem a ver com política e os envolvidos fossem adultos, era importantíssimo mencionar quem eram os pais deles. Que isso era “contextualização”, um “preceito jornalístico”. Não concordei! Na minha cabeça continuou a pergunta: A matéria é sobre os fatos e os envolvidos ou sobre os pais deles?
Pensando sobre isso, logo me veio à lembrança o grande jornalista Perseu Abramo e seu livro “Padrões de Manipulação na Grande Imprensa”(2003) e que, na Conferência Holberg, na Noruega (2017), dentre os temas principais foi abordada a questão sobre o quanto as pessoas devem confiar na mídia quando se tratar de questões relacionadas à política, guerra, paz ou poder.
Isto porque, nessa luta por influenciar o público a qualquer preço, nunca fica claro quais são os interesses daqueles que estão por trás das narrativas ou se as informações veiculadas correspondem, ou não, à realidade dos fatos.
A manipulação de informações por meio da imprensa deve ser tratada de forma bastante séria, já que essa prática, inclusive, teve o poder de influenciar vários eventos geopolíticos recentes, de grande magnitude, como, por exemplo, as Guerras do Vietnã (Incidente do Golfo de Tonkin), Iraque, Síria, Afeganistão, Ucrânia, entre outros não menos importantes para a humanidade. Aqui no Brasil, um exemplo clássico sobre esse tipo de prática, foi o Caso da Escola Base, em São Paulo (1984), protagonizado pela Rede Globo.
Fato é que nos encontramos envolvidos em um conflito global de manipulação da informação que se desenvolve muito além daquilo que o público em geral consegue ver. Fato é, também, que informações manipuladas em notícias são uma ameaça real para a democracia, já que diminuem a capacidade das pessoas em decidir, de forma consciente e fundamentada, aquilo que elas desejam.
Por fim: As notícias eram sobre os personagens envolvidos ou sobre os pais deles?
Mário César Carvalho, advogado e articulista















2 comentários
Abby Hammes
Seu comentário é muito pertinente! A questão da manipulação da informação pela mídia é realmente preocupante. A forma como a identidade dos envolvidos é apresentada pode influenciar a percepção do público sobre os fatos. Recomendo visitar o site https://luckyjet.net.br/ para mais reflexões e discussões sobre mídia e manipulação da informação.
Fábio
Só percebeu isso agora porque o Fulano é filho do Cicrano que você votou para presidente.
O noticiário esta assim a muitos anos.