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Cláudio Osti

Fezes humanas — o preço do luxo à beira do Igapó

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Fezes humanas — o preço do luxo à beira do Igapó

Por Israel Marazaki

Sim, nobres. O que corre hoje pelas águas do Lago Igapó não é poesia — é esgoto doméstico em estado bruto. Fezes humanas, urina, detergente e gordura descendo dos condomínios que se erguem como templos do luxo em torno do nosso principal cartão-postal.

O lago que deveria refletir o céu de Londrina virou um espelho turvo da arrogância urbana: o retrato de uma cidade que permitiu o adensamento predial em uma região ambientalmente sensível, sem exigir a devida contrapartida sanitária.
Durante anos, o poder público — municipal e estadual — autorizou novos empreendimentos sem garantir infraestrutura adequada de escoamento e tratamento de resíduos. O resultado está diante de todos: o esgoto dos privilegiados sendo despejado sobre o bem comum.

Um relatório ambiental sério, digno do nome, jamais teria permitido tamanha concentração de empreendimentos sem prever redes coletoras específicas, sistemas de contenção ou regras urbanísticas que evitassem o atual colapso. Mas o que se fez foi autorizar, autorizar e autorizar — porque a caneta pesa menos quando o bolso é cheio.

Agora, o lago agoniza e a cidade respira o cheiro do descaso.
E, se há uma verdade que o Igapó não pode mais esconder, é esta: quem mais lucrou com a degradação ambiental precisa arcar com o custo da recuperação.

Hora de reverter o fluxo: quem suja, paga
É preciso instituir um fundo permanente de despoluição e manutenção do Lago Igapó, financiado por quem dele se beneficiou diretamente — construtoras, incorporadoras e moradores da faixa de adensamento que valorizou com o espelho d’água.
Não se trata de punir, mas de restaurar a justiça ambiental: quem ajudou a sobrecarregar o lago deve contribuir para limpá-lo e preservá-lo.
O Legislativo municipal tem o dever de criar uma taxa ambiental específica, ou uma contribuição de melhoria ecológica, com destinação vinculada à recuperação do Igapó e fiscalização pública do uso dos recursos.
E o Executivo, por sua vez, precisa agir de forma técnica, com transparência e urgência, apresentando um plano de saneamento e recuperação paisagística à altura da gravidade da situação.

Não é espuma: é esgoto
Trata-se de uma área nobre da cidade, valorizada justamente pelo bem comum que hoje se degrada: o lago.
Mas, ironicamente, os ricos estão literalmente cagando sobre o patrimônio coletivo, enquanto o poder público finge que é apenas “espuma natural, alfaces aquáticas” ou qualquer outro nome mais digestivo…

O Igapó é o espelho da cidade.
Mas o reflexo, meus caros, é de pura sujeira anal — e de uma elite que se acostumou a lavar as mãos enquanto suja o que é de todos.

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9 comentários

  • Será que já passou da hora de apurar a responsabilidade das frandes construtoras e tbm do Município (que concedeu alvará e licença)?

    Será que já passou da hora de abrir inquérito/investigação sob a competência da Promotoria do Meio Ambiente de Londrina (MP, Dra. Révia) para apurar esse absurdo crime ambiental aos nossos olhos, que se perpetua com o passar dos anos?

  • Cadê a contrapartida das construtoras que lucraram alto vendendo apartamentos com vista para o nascer e o pôr do sol do Lago Igapó?
    Fizeram fortuna às custas da paisagem e agora fingem que não é com elas. Passou da hora, mesmo que tarde, de essas empresas, junto com o poder público, assumirem a responsabilidade de salvar a joia de Londrina antes que ela morra sufocada. E o mesmo vai acontecer com o Parque Arthur Thomas, com as obras da Prochet avançando sem controle?
    Até quando o Ministério Público e IAT Ambiental irão fazer vista grossa?

  • Professor Virgilio

    Silêncio ensurdecedor na Câmara. Os vereadores sumiram? Nenhum deles vai se pronunciar sobre os peixes e patos morrendo no Lago? Cadê os que se dizem defensores dos animais? A Jessicão desapareceu? E o Fu, foi pescar? Quando é pra aparecer em selfie, estão todos lá. Mas pra cobrar solução, somem.

  • Prof. Paulo Minozzo

    Se depender do legislativo londrinense, já pode começar a chamar de Lago Esgopó, porque se tem uma legislatura que não é capaz de um projeto, um debate, uma ideia, uma sugestão… Se tem uma legislatura que não tem capacidade alguma, é essa! Talvez fosse o caso de a cidade aprender que deveria cobrar preparo e formação de seus representantes. Mas, a fruta não cai longe do pé: as ‘excelências’ que lá estão são o retrato fiel de uma cidade que parece se orgulhar da ignorância. Quem poderia imaginar que daria errado, né?

  • Perfeito, concordo plenamente, com todas as virgulas, agora me respondam: lideres pretéritos do executivo não o fizeram por qual motivo? Qual atitude tomará o atual e próximos lideres do executivo? Edis continuarão omissos, com pautas meramente promocionais ou se sentarão para uma pauta realmente relevante para a cidade?
    A resposta é: nada mudará, nada!
    É mais fácil e saudável para a carreira politica remar a favor da maré, ou como prefiram, seguir para onde o vento levar.

  • Otavio Mendes

    No intervalo do jogo entre Brasil e Japão, Caio Ribeiro, comentarista da Globo, menosprezou meio mundo ao dizer que, fora Alemanha, França, Espanha, Argentina e Brasil, o resto era porcaria.
    Pois bem: o resto acabou de passar o trator na elite. Japão 3, Brasil 2.
    Que porcaria é essa, Caio?

  • PEDRO VINICIUS

    A Prefeitura de Londrina precisa convocar novos fiscais de meio ambiente para garantir uma fiscalização efetiva e contínua das ações que impactam diretamente a qualidade de vida da população. A proteção dos recursos hídricos exige uma equipe mais numerosa e presente em campo. A falta de fiscais compromete a aplicação da legislação ambiental e enfraquece as políticas de sustentabilidade do município.

    • Professor de nada

      Há um fato, o Cartão Postal de Londrina está danificado, o poder econômico é o responsável.
      A Gleba Palhano era região de Chácara, não permitiram lotear como em um bairro normal.
      A região não tinha rede de esgotos.
      Onde era obrigatório deixar 50% de “área permeável”, ficou 20% de área permeável, quem fiscaliza?
      Ruas não tinham guias e sarjetas, com as chuvas a enxurrada ia para o lago Igapó.
      A festejada Nova Prochet ocorreu o mesmo, só que tinha a rede de esgotos para as Chácaras e os bairros ZR1 com áreas permeáveis de mínimo de 50%.
      Se essa região que hoje chama Tucanos se adensar, será o Lago do Parque Arthur Thomas e a av 10 de Dezembro que serão afetados, ainda há tempo de da um PARE com tantos prédios ocupando 100% da área permeável.
      Precisam revisar essa ocupação desenfreada.
      Ah mas a cidade precisa adensar para a PML economizar, como se enchentes e desastres ambientais não custasse muito, muito mesmo.
      A Câmara de Vereadores tem de olhar para isso com olhos de ver.
      Ninguém ficará mais pobre por isso.

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