Minha linda. Parabéns minha terra vermelha
E Londrina chega aos 90 anos sem rugas, artrite, cabelo pretinho e energia pra dar e vender.
Eu até podia começar assim: na minha época…
Bobagem. Nossa época é hoje, foi onteme será amanhã e será sempre enquanto estivermos aqui “neste vale de lágrimas” (frase roubada de Kit Carson, um ranger rabugento das estórias em quadrinhos dos gibis do Tex Willer, que eu era fã).
Garoto, lá na Vila Recreio, todas as ruas de terra, sem a menor perspectiva de um dia ter asfalto, a molecada brincava sem se preocupar com a cor que ficaria a roupa. A preocupação era das mães. E quase todas as mães daquele período usavam o método havaiana para educar os filhos. Tantas chinelada levei que dava até para fazer propaganda da resistência daquele calçado que na soltava as tiras e nem deformava com o impacto nas nossas bundas, ou onde aquele objeto voador nos acertava.
Quando demorava a chuva, em alguns pontos da rua a terra ia ficando tão fininha, que quando andávamos, a sensação era de que você estava pisando em um talco de cor avermelhada, quase roxa, a camada fina subia entre os dedos dos pés. Em outros pontos o chão ficava duro, e uma breve garoa, e já se transformava em mais diversão, escorregar no barro, ver quem conseguia ficar mais tempo em pé naquele piso escorregadio, fazer pelotas de barro, deixar secar e usar como munição nos estilingues. Fazer lama e lambuzar o amigo, brincadeiras inocentes taoquei! (ops! falha nossa).
Quando íamos para o centro, dizíamos: “vamos pra cidade”.
Da Rua Tamanduátei, dava pra ver os prédios que estavam surgindo no Centro.
Subíamos a rua São Vicente a pé – pouco menos de três quilômetros – até chegar a estação de trem. Meu tio Paulo, ferroviário, brigava conosco – aquela molecada inquieta e encardida – por ficarmos pulando entre os vagões. Dizia que era perigoso. E era.
Ainda havia o trem de passageiros. Muita gente chegou a nossa cidade por este meio de transporte.
Uma centena de metros acima, a rodoviária. Sempre intrigante com aquela arquitetura tão diferente das casas de madeira que estávamos acostumados lá na Vila Recreio.
Só muitos anos depois, já na profissão de escrevinhador profissional, entendi porque tanta gente falava do prédio da Rodoviária. Obra de Vilanova Artigas, engenheiro e arquiteto que ficaria horrorizado hoje com os caixotões que volta e meia são erguidos em Londrina chutando a estética para bem longe daqui.
Londrina 90 anos.
As casas de madeira já quase não existem. As ruas empoeiradas são raras. Com luz de led em todas as ruas, nem o escurinho tão necessário para os amassos, as mãos bobas, os beijos molhados e cheios de vontade da adolescência, compõe esta nova era. Mas, sempre dá-se um jeito.
Londrina das gigantes da tecnologia, das gigantes da construção civil, do polo de medicina, dos grandes festivais, do polo de cinema, de tanta criatividade, do glorioso e inigualável Tubarão, das universidades.
Não é saudosismo, é alegria de ter vivido tantos momentos dessa nossa meninona de 90 anos que sim acolhe a todos. Acolheu meus pais, e os pais de tanta gente.
Parabéns minha linda.
Parabéns Cláudio.
Botina homenagem à nossa querida e sempre acolhedora Londrina.
Óia o Vila Recreio.
Era só trocar Vila Recreio por Casoni, que dava na mesma…
Bem isso..
Vila Nova idem.
Senti aí uma paixão por essa cidade. Escrito com o Coração. Abraços.
Testemunho excelente!
Eu sou mais jovem que você, tenho apenas 50 anos… Hahaha! Já peguei o tempo do asfalto!
Mas também íamos “na cidade”, a bordo do Yara-Higienópolis.
O trem que trouxe tanta gente trouxe também meu pai (que partiu há menos de um mês para aquela viagem definitiva).
Lembro que, em 1982, lá no Vicente Rijo, a professora Júlia levou o pioneiro George Craig Smith pra dar palestra pra criançada. No final, ele distribuiu autógrafos. Tenho até hoje guardado aquele papelinho com a assinatura de um gigante.
Londrina é isso, um estado de espírito, para além de ser uma cidade.
Só a gente que é daqui (e mesmo quem, igual a mim, mora longe mas sempre está aqui) sabe o que é isso!