Segundo Traiano, "propina" foi doação de campanha
Depois de dois meses evitando cuidadosamente a imprensa, o presidente da Assembleia Legislativa do Paraná, Ademar Traiano (PSD), afirmou numa breve entrevista coletiva que o dinheiro que recebeu do grupo Joel Malucelli em 2015 era uma “doação de campanha” e disse que “não deve nada para a Justiça”. As declarações foram dadas antes do início da sessão plenária desta segunda-feira (19).
Antes da revelação do pagamento da propina, Traiano falava todos os dias com os repórteres. Desde dezembro, no entanto, passou a usar caminhos alternativos dentro do prédio para nem mesmo passar perto dos jornalistas enquanto seguia de seu gabinete para o plenário. Nesta segunda, porém, parou e falou por cinco minutos – primeiro sobre tramitações de projetos pouco importantes, até ser questionado sobre a propina.
Ao ser questionado pelo repórter Geovane Barreiro, do portal Nosso Dia sobre por que sumiu e evitou a imprensa, Traiano negou que tenha desaparecido. “Eu não sumi. Continuo aqui presidente. É um direito que eu tenho de buscar aquilo que a lei me permite fazer. Não quero discutir o assunto”, afirmou.
Propina ou doação?
Primeiro, fica claro na delação de Vicente Malucelli que o grupo para o qual ele trabalhava, liderado pelo empresário Joel Malucelli, fez o pagamento não para ajudar numa possível reeleição de Traiano, e sim para que o presidente renovasse o contrato da TV Icaraí com a TV Assembleia.
Além disso, 2015 não era ano eleitoral – e o recebimento de doações de campanha, regulado por lei, só pode ocorrer nos anos eleitorais, em períodos determinados pela Justiça Eleitoral. Portanto, mesmo se fosse dinheiro de campanha, estaria irregular. A repórter Carolina Wolf chega a questionar Traiano sobre isso, mas ele simplesmente responde que “no meio político é assim que as coisas acontecem”.
Outro ponto importante: o acordo de não persecução penal assinado por Traiano foi feito com o Ministério Público e homologado pelo Tribunal de Justiça. Ou seja, se estivesse tratando de um crime eleitoral, Traiano teria de ter lidado com o Ministério Público Eleitoral e com o TRE. Não foi o caso.
Mas as provas que vieram à tona sobre o caso mostram ainda mais elementos para desmentir o mero crime eleitoral. Por exemplo, Traiano pede para receber parte do dinheiro não em uma conta pessoal ou do partido, e sim na conta de uma oficina mecânica em Francisco Beltrão.
Se era dinheiro de campanha, por que devolveu o dinheiro em um acordo espúrio com o MP? No estado onde imperam o fanatismo religioso e o terraplanismo bolsonarista, o corrupto sabe que haverá muitos crédulos na sua desculpa esfarrapada. Corrupto!
Se o mito recebeu joias, parte de salário de assessor e 17 milhões no PIX, por que o Traiano não poderia?