Velho, olhe para o lado

Por Edson Vitoretti

Não lamente, meu velho, por estar só na velhice. Afinal, você sempre esteve sozinho, acompanhado apenas do seu Egoísmo, sua pedra fundamental.

Olhe para o lado, velho, e veja que suas mulheres o abandonaram por causa do seu parceiro de cama, mesa e banho, o Egoísmo, que lhes roubava o espaço de “ser junto” com você na relação. Estando com elas, você as mantinha só, porque você só estava com você… e com ele, o seu verdadeiro amante, o senhor Egoísmo. Por isso, hoje, você não tem uma alma acolhedora ao teu lado, para te amparar nos momentos que não são de festa, mas cruciais na vida.

Olhe para o lado, velho, e veja que seus filhos não estão por perto, para lhe amparar ou para te pedir conselhos. Eles sabem que o espaçoso Egoísmo inunda toda a tua atenção e entope os ouvidos e a alma, retirando dos teus filhos a possibilidade de se sentirem úteis a ti, de se conectarem intimamente com você, de aliviar tuas dores, de perceberem em você tuas mãos secretamente trêmulas diante do desespero nas horas de solidão. Assim como sabem que teus conselhos são vagos e imprestáveis, próprios de quem passou a vida observando-a com óculos egoístas – que só te dão visão de curta e egoísta distância –, logo, incapazes de te deixar sentir realmente a dor do outro, de enxergar realmente o problema do outro, o que te faz ignorante e inútil na matéria de dar conselhos, de enxergar e confortar o drama até daqueles que você deveria conhecer profundamente por conta da proximidade biológica, se não tivesse com os óculos egoístas ofuscando e impedindo o verdadeiro ato de Conviver.

Olhe para o lado, velho, e veja que os parceiros da política não estão ao teu lado. Isso porque, sendo parecidos no que chamam de “ideologia”, sacaram que você não tá nem aí para os outros, para a humanidade, para os problemas do homem comum e real (não da figura abstrata de homem que você criou em tua cabeça) vivendo na coletividade. Porque o seu camarada Egoísmo jamais te permitiu se engajar verdadeiramente na política. Os pequenos barulhos e estardalhaços que você fez nela foram apenas artifícios para obter mulheres (sexo sem vínculos), diversão social estéril (vagabundagem), status de preocupação coletiva (um bálsamo para mentir para si e calar uma pequena dor de consciência burguesa). A política sempre foi para ti apenas algo utilitário, conveniente, um passatempo, jamais uma verdadeira entrega, jamais uma real doação, jamais um íntegro ideal. Isso é claro, só você não enxerga e ainda pensa que os outros não enxergam isso em você. Mas lá no fundo, você e seu conselheiro político, o Egoísmo, sabem muito bem do que estou falando. É só puxar na memória… Fatos e escolhas não se apagam.

Por fim, olhe para o lado, velho, e veja que os amigos não estão por perto. Os comparsas festeiros sim, se apresentam quando convocados porque querem apenas festa, assim como você. Porque festa foi o que você e o seu amigo inseparável, o Egoísmo, escolheram para preencher o vazio da existência. É uma escolha ridícula, porque óbvia e fácil; animalesca, porque qualquer animal escolhe o instinto, os prazeres carnais e fúteis; adolescente, porque imatura, irresponsável, doidivanas. Mas perceba, velho, que você não tem gente para o ombro amigo, para contar-lhes suas reais dores, desabafar com eles seus fracassos, para ter aquele amparo íntimo e fraternal que comparsa festeiro nenhum é capaz de dar, porque a comunhão festiva é apenas exterioridade – jamais interioridade –, uma espécie estridente de ritual egoísta.

Ainda há tempo, velho, para você, finalmente, produzir um pouco de nobreza em sua vida. Abandone aquilo que te fez quem você foi à vida toda: o Egoísmo. Seja um homem nobre para uma mulher, um pai nobre para seus filhos, alguém com objetivos e ações nobres na política e um amigo nobre para amigos que merecem e precisam também produzir e receber atitudes nobres, e não apenas festividade. Sei que não será fácil, ainda mais para alguém que sempre escolheu os caminhos fáceis, característica imanente das escolhas egoístas.

Mas, largando o egoísmo, ao final, quando você cruzar a ponte que sempre teve medo e preguiça de atravessar, você será outra pessoa, e encontrará amores, amizades, companheirismos, lealdades, vínculos, diversões, status, alegrias, cumplicidades que você nunca teve e que só brotam da verdadeira riqueza da vida: da generosidade.

Com ela, com a generosidade, velho egoísta, você não terá mais lamentos, vazios, inconsistências, solidões, choros escondidos, pois terá o que sempre precisou e jamais teve, porque seu egoísmo sempre a repeliu: A Plenitude.

(Para um festeiro, mas não amigo, velho distante.)

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Um comentário

  1. Satanás

    Velho Bolsonaro, nem olhe para o lado, aquele coronel que sabe tudo o que você fez nos últimos quatro “verões” vai entregá-lo pra Papuda… Quá! Quá! Quá!

      1. Satanás

        Zé Beto? Que Zé Beto? Não me interessa, muito obrigado. Próximo! Quá! Quá! Quá!

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