“Vocês cuidam dos seus comunistas, que dos meus comunistas cuido eu”
Por Edson Vitoretti
“Vocês cuidam dos seus comunistas, que dos meus comunistas cuido eu”, disse um certo empresário rebatendo o desejo dos militares de decepar algumas cabeças vermelhas de sua empresa, em plena ditadura. Ganha um doce (quem não for diabético, claro. Pode parecer, mas não sou sádico) quem acertar de quem é a frase. Roberto Marinho.
Na época, como hoje, aliás – o tempo passa mas as conjunturas teimam em voltar –, qualquer esquerdista era tratado como “comunista”. Um dos esquerdistas (que não estava na lista dos militares citada acima, até porque ainda não trabalhava na Globo) que Roberto Marinho abrigou na Vênus Platinada foi Carlito Maia, que não era comunista, mas foi um dos fundadores do PT. Carlito disse certa vez: “Pouco respeito comunista brasileiro, a não ser o legendário Cavaleiro da Esperança, Luis Carlos Prestes, e poucos outros”. Sobre Prestes, assino em baixo.
Carlito foi responsável pela criação publicitária da Rede Globo durante 20 anos. Sim, um esquerdista, um petista, cuidando da criação da Globo numa época em que a Guerra Fria “bombava” (não resisti ao trocadilho contraditório) e na qual perseguir comunistas era passatempo predileto do Poder em diversos países do planeta.
Empresários de sucesso sabem fazer vistas grossas a ideologias de empregados opostas às suas, independentemente do contexto histórico, social, político, econômico etc. O cálculo é simples: se esses empregados têm talento, dão retorno, lucro, são prestigiados. Empresários de sucesso não são como essa turba de hoje em dia, da extrema-direita, que persegue gente por conta de sua opção política.
Quando Roberto Marinho falou alto com os milicos defendendo seus “comunistas”, defendia ali um patrimônio, um recurso de mão de obra de extremo valor para sua organização. Marinho sabia o que eu tenho como teoria aqui com os meus botões: “comunistas” são publicitários por excelência. Passam a vida engendrando discursos adaptáveis, maleáveis, digeríveis, para públicos hostis, que não querem receber dada mensagem. São peritos imbatíveis em persuasão, em Comunicação.
Mas até a massa do nosso empresariado ogro (liberais da boca para fora, que criticam mas vivem mamando nas tetas do Estado, via BNDES, Caixa, BB, sonegando impostos, exigindo subsídios, amparos econômicos etc. etc.) entender isso, vai tempo. Por onde anda o Véio da Havan, hein? É…
“Carlito Maia? Roberto Marinho? Comunistas? Nossa cara! Não tem assunto mais atual pra você falar, não?” Meu querido, o que posso fazer se tenho bagagem, se não passei a vida vendo série de TV, novela, assistindo a futebol, jogando videogame ou vendo meme idiota nas redes sociais? Não tenho compromisso com critérios de valor-notícia (Teorias do Jornalismo) como oportunidade e atualidade. Falo o que me vem na cabeça, que não ficou vazia um minuto desde que me entendo por gente. Aqui também não tem submissão a interpretações ralas e fáceis, em respeito ao leitor.
Para terminar, Carlito Maia: “O PT é composto por seres humanos, com todos os defeitos e virtudes: xiitas e xaatos, xiiques e xuucros, xaaropes e xeeretas”. Devo estar entre o xaatismo e xeeretismo, sei lá.
Edson Vitoretti é jornalista em Londrina
Excelente reflexão, estendo a ela o viés contrário, tem muita gente que não larga o seu liberal rsrsrsrs. Não lembro qual foi o general da ditadura, que uma vez afirmou que a direita e esquerada, são os extremos da mesma ferradura.
https://www.poder360.com.br/opiniao/o-filho-de-ulysses/
Em ciência política, a chamada “teoria da ferradura” argumenta que a extrema-esquerda e a extrema-direita, ao contrário de serem extremos opostos de um espectro político linear e contínuo, de fato acabam se aproximando, da mesma forma que o fim de uma ferradura. Esta teoria é atribuída ao escritor francês Jean-Pierre Proponentes da teoria demonstram uma série de similaridades entre a extrema-esquerda e a extrema-direita, incluindo governos autoritários ou totalitaristas. Esse general apenas confirmou o óbvio.