A rede do ódio
da Veja
Filho Zero Dois do presidente Jair Bolsonaro, o vereador Carlos Bolsonaro ficou conhecido como a principal figura por trás dos trabalhos feitos pelo pai nas redes sociais. Sua atuação fez com o parlamentar passasse, inclusive, a ser investigado por supostamente coordenar um grupo batizado como “gabinete do ódio”, suspeito por atacar autoridades e disseminar fake news pela internet. O que poucos sabem são os detalhes de como funciona essa grande rede digital de sustentação do governo, em uma operação diária orquestrada por Carlos com participação de dois grupos de amigos.
O vereador é considerado empenhado na missão que lhe foi designada. Ainda que passe boa parte do tempo de olho no celular, o Zero Dois conta também com ajuda de uma trinca de confiança para fazer o serviço e garantir que nenhum conteúdo com potencial de viralizar na internet passe ao largo do crivo do parlamentar.
Parte da equipe de Carlos fica lotada no Palácio do Planalto, monitorando praticamente 24 horas por dia o que se fala sobre Bolsonaro e sua família nas redes sociais. O mesmo monitoramento é realizado nos jornais da TV. No Planalto, aliás, todos os aparelhos televisivos ficam sintonizados na Globo News o dia inteiro. A equipe é composta por Tercio Arnaud Tomaz, assessor especial da Presidência, e apontado como mais uma liderança do “gabinete do ódio”; o olavista Filipe Martins, assessor para Assuntos Internacionais da Presidência da República; e Léo Índio, primo da família Bolsonaro, empregado na liderança do PL no Senado.
Todos seguem basicamente o mesmo modus operandi. São eles que abastecem o WhatsApp do 02 com sugestões de conteúdos que podem ser usados politicamente pelo vereador. Fotografias de chamadas de jornais televisivos usados por Carlos nas próprias redes sociais e nas do pai, por exemplo, geralmente são registros feitos pelos celulares desses três amigos do vereador do Rio.
O outro grupo que participa da operação de Carlos engloba, direta ou indiretamente, outras 200 pessoas, donas de perfis influentes (fakes ou não) no Twitter, cada uma com capacidade de gerenciar outras 10 páginas falsas – todas preparadas para compartilhar os conteúdos que Carlos mandar. Dentre os principais ajudantes do Zero Dois nessa empreitada, estão perfis como as de @SaritaCoelho, com mais de 73 mil seguidores no Twitter; de @bellana, com mais de 49 mil; de @bolsoroosevelt, com 18,8 mil; de @juhZanca, com 48,2 mil; e de @iaragb, com 69,6 mil. Outro perfil que ajuda a catapultar as publicações, sob a batuta de Carlos, é o blogueiro conservador Kim Paim, com 629 mil seguidores no Twitter, apelidado como “o Diário Oficial de Carlos”.
A atuação da rede bolsonarista na profusão de conteúdos pela internet também varia bastante. Inclui também ataques a ex-aliados da família presidencial, feitos a mando de Carlos. Quem convive dentro dessa realidade cita como exemplos ofensivas recentes feitas contra o ex-ministro da Educação, Arthur Weintraub, que chegou a manifestar publicamente ser alvo de ameaças de bolsonaristas.
Quatro anos atrás muita gente (alguns por idiotice, outros por má-fé) acreditou nas mentiras espalhadas por essa rede. Tomara que tenham aprendido a lição e não aceitem ser enganados novamente. Quanto às redes que se prestam a servir como correia de transmissão dessa mentiras, elas certamente estarão abreviando a sua vida útil e seu valor comercial. Vão acabar como o Orkut acabou. Garantir espaço a robôs é certeza de tiro no pé.