
O Fundão foi criado em 2017 como resposta à proibição de doações empresariais, determinada pelo STF dois anos antes. Na época, a justificativa era evitar a influência indevida de empresas sobre o poder público. A solução encontrada foi transferir o financiamento eleitoral para o bolso do contribuinte, por meio de recursos públicos.
A mudança, articulada pelo deputado Isnaldo Bulhões (MDB), elevou em 390% o valor originalmente previsto no orçamento. E a engenharia financeira para bancar esse acréscimo não tem nada de simbólica:
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R$ 3,9 bilhões virão das emendas de bancada, verbas que normalmente financiariam obras e projetos nos estados, como infraestrutura, saúde e educação;
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Outros R$ 1 bilhão virão de cortes em despesas do governo.
Na prática, dinheiro que seria usado em investimentos públicos locais foi desviado para bancar campanhas eleitorais — santinhos, cabos eleitorais, marqueteiros e toda a engrenagem partidária.
Rara união entre governo e oposição
A decisão passou com clima de unanimidade no Congresso, unindo PT e PL, governo e oposição. Poucos parlamentares se manifestaram contra, num raro consenso que revela que, quando o assunto é financiar as próprias campanhas, as diferenças ideológicas somem.
Enquanto o país discute cortes em áreas sensíveis, a classe política blindou o Fundão com quase R$ 5 bilhões.
Críticas crescentes
O aumento bilionário acontece num momento em que municípios enfrentam crises fiscais, obras estão paradas por falta de recursos e o governo federal fala em “ajuste” e “responsabilidade fiscal”.
Críticos apontam que o modelo atual distorce a finalidade do orçamento público: ao invés de financiar serviços essenciais, o dinheiro é canalizado para a manutenção do sistema político — um sistema em que partidos recebem recursos em proporção ao seu tamanho, reforçando o domínio das grandes siglas e reduzindo espaço para a renovação.













