O ouro de sangue da Amazônia em rede mundial
Coluna Pequena Londres, Por Walace SO*
Buenas Pequena Londres, saudações de Pé Vermelho, depois de um recesso retorno das bandas do Rio Madeira em terras amazônidas.
Tenho assistido repetidas vezes o filme “diamante de sangue”, seu enredo sobre o contrabando ilegal de diamantes e a manutenção das guerras civis pelo continente africano sempre me desperta reflexão e tristeza. E cada vez que assisto o desalento é profundo. Vamos refletir juntos a ligação dos “diamantes de sangue” africano e o “ouro de sangue” da nossa Amazônia.
África e Ásia durante o final do século XIX e no auge da segunda Revolução Industrial foi um movimento justificado pelos europeus como uma necessidade civilizatória. Dessa forma esses dois continentes foram fatiados como uma pizza, e alguns países se alimentaram deles até o século XX. Com destaque para Inglaterra, Alemanha, França e até a pequena Bélgica que cabe no estado do Espírito Santo. Contudo sua crueldade com o seu “pedaço” da África conhecido naquela época como Congo Belga é digno de filme de terror. Abusando da escravidão, mutilação e literalmente surrupiada a riqueza daquele país sem precedentes históricos.
E sempre com a alegação de ser um processo de civilização superior a uma civilização inferior. Mas, verdadeiramente ideológica e de expansão imperialista e nada mais. Afinal, o capitalismo necessitava de matéria –prima para sua expansão e mão-de-obra barata para seus mercados, com as bênçãos das religiões, principalmente sem organização sindical e a consciência de cidadania caracterizada por direitos e deveres baseados em um Estado constituído democraticamente.
No século XX o processo de retirada desses países, principalmente na África, provocou o caos social com vários grupos disputando o poder e normalmente financiados pelas potências europeias. Dessa forma escondiam sua ação e domínio em suas antigas colônias.
No século XXI, após três séculos de supremacia da Revolução Industrial e do capitalismo vivemos um novo caos, o do aquecimento global. E o planeta que tem aproximadamente 4,5 bilhões de anos segundo os cientistas, contrariando “terraplanistas” e “pastores fundamentalistas”, não está dando conta da devastação dessa supremacia. Estamos cada dia mais perto de um mundo apocalítico, pela insanidade do “bicho homem” e de sua ganancia desenfreada.
E você já deve estar perguntando, onde entra o “ouro de sangue”, bom ele está no seu celular, nos computadores, na web e redes sociais. Pois, tudo utiliza filamentos de ouro em sua fabricação. Segundo uma reportagem do Brasil Repórter (uma agência independente e premiada de jornalismo investigativo) de Daniel Camargos em 2022, em 2019 de todo ouro que circulou nos E.U.A. 37% vinham do ouro de sangue ligado a aparelhos eletrônicos. Numa conexão entre garimpo ilegal com as Big Techs, com esse ouro sendo usado nos celulares, notebook e superservidores que comandam o emaranhado das redes da internet pela exploração de terras indígenas Yanomami, Munduruku e Kayapó. O mapa do sangue de ouro, bem como seu esquema está desenhado na reportagem com o link abaixo:
Em fevereiro de 2023, os repórteres César Tralli e Marcus Passo da G1 Pará e TV Globo, publicaram uma reportagem sobre o caminho do ouro de sangue e a ilegalidade. Que culminou com a excelente reportagem sobre uma operação da Polícia Federal desmontando todo o esquema criminoso responsável pelo contrabando de um pouco mais de 13 toneladas de ouro com seu auge no período de 2020 a 2022. Segue link da reportagem para uma leitura mais apurada:
Lembrando que o garimpo ilegal afeta toda a floresta amazônica e todo o equilíbrio do planeta. E sua única herança é a devastação total do meio ambiente e dos rios contaminados por séculos pelo mercúrio. Assim, devemos refletir se queremos que a Amazônia vire um grande canteiro de terra arrasada, rios envenenados, estupros, prostituição, criminalidade e mortes ou lutaremos pela sobrevivência da floresta com novos arranjos produtivos sustentáveis e que trazem a paz, prosperidade e riqueza social.
A escolha está em nossas mãos se continuaremos a ser uma colônia no século XXI, deixando extraírem nossas riquezas, desde a invasão portuguesa. Ou assumimos de fato nosso potencial e protagonismo como o país do futuro investindo na preservação da floresta sustentável e na educação que produzem tecnologia e desenvolvimento social.
Bora refletir!
*Walace Soares de Oliveira, professor de sociologia do IFRO, graduado em Ciências Sociais pela UEL, Mestre em Educação pela UEL, Doutor em Ciência da Informação pela USP.
Excelente texto.
Mas, receio que não alcançaremos esse nível de consciência entre os cidadãos que habitam o Planeta Terra.
O modo de produção voltado para o lucro, para a acumulação e o consumismo resulta nesta devastação desenfreada. Sem contar a ganância pelos vis metais, praticados por gente criminosa, inescrupulosa, perigosa.
As empresas, as indústrias exploram em países periféricos os recursos disponíveis, pagando uma miséria para os trabalhadores, da África, da Ásia produzirem, sem direitos trabalhistas ainda existentes por aqui.
Há muita gente lutando por uma Terra ambientalmente mais sustentável, lutando contra interesses de poderosas corporações empresariais para salvar o que resta de floresta, de fauna, de recursos hídricos, nos salvar, portanto, em prol de futuras gerações que virão ou não.
Mas, quando assisto um Congresso Nacional derrubando o veto ao Marco Temporal, eu desanimo.