O “CEO” de padaria
Por Álvaro Ferreira
Tenho discutido muito com meu amigo Deni Godoy sobre a importância de valorizarmos a nossa língua portuguesa e os problemas que nossa população denota ao escrever e falar muito mal. Ele advoga que falamos hoje, no Brasil, de modo muito diferente do que se fala em Portugal. Daí sugere que deveríamos chamar nossa língua de “Brasileiro“. Mas essa é uma outra história. Tenho dito a ele que a língua é viva e vai sofrendo alterações e interações com outras línguas e dialetos ao longo do tempo.
E se por um lado parte da população fala e escreve mal por falta de acesso ao conhecimento adequado da mesma, uma outra parte da população é negligente no uso da língua mãe. E nesse caso, me refiro a pessoas, supostamente, educadas.
Desde que nos entendemos por gente, o mundo dos negócios é dominado por anglicismos. Não raro aparece algum sapatenis falante a sugerir “startar” o processo, ou realizar um “saving”. Ou então, com a sugestão de mudar o “approach” para ser mais “assertivo” e conquistar as metas (aqui o estômago chega a embrulhar, pois “assertivo” não tem nada a ver com acerto). Todas essas palavras em inglês possuem versão consagrada em português, sem a mínima necessidade de usar o termo em outra língua, senão para passar uma imagem de ser uma pessoa muito antenada.
Há exceções a se considerar, quando um termo acaba por designar um conceito universalmente conhecido, como é o caso de “fake news“. Mesmo assim, ainda prefiro “notícias falsas“.
E por último, a nova moda é a dos “CEO”s de padarias. Nada contra essas maravilhosas lojas que vendem sonhos deliciosos. Se você fosse o executivo número um da Dunkin’ Donuts, marca mundial no ramo de confeitarias, aí sim faria todo o sentido. Afinal você se comunicaria com executivos de todas as partes do planeta, e a ferramenta para isso é a língua inglesa. Agora, se você é de uma empresa local, cujos parceiros são todos locais e falam a língua nativa, é falta de inteligência se intitular CEO, CMO, CFO e etc.
Algo que todo profissional brasileiro deveria carregar, penso eu, é respeito, admiração e valorização de nossa língua nativa. Afinal de contas, nossa Constituição confere à Língua Portuguesa o caráter de patrimônio cultural. E, no fim das contas, quem conhece melhor a sua língua escreve melhor, comunica-se melhor e – acima de tudo – pensa melhor.
Alvaro Ferreira é Mestre em Ciências da Comunicação pela USP-SP
Jornalista e apresentador do Podshow 91,7 na Paiquerê 91,7
belas palavras do nobre publicitario e professor Álvaro Ferreira. damos muito pouco valor ao nosso idioma que tem um estilo precioso e pode ser comparado seu aprendizado ao de música de tão complexo que é. e nas palavras o brasileiro fala um dialeto do português oficioso pois a variação entre o verbal e o vernáculo o primeiro domina. haja sacoi para decorar as regras mais caretas. Bem falado é o nosso português.