Lerner participou da elaboração do primeiro Plano Diretor de Londrina

Crédito da foto: Museu Histórico de Londrina

Por José Pedriali

Jaime Lerner menosprezou Londrina durante os dois mandatos de governador (1995-2002), legando à cidade basicamente duas empresas de porte, instaladas graças aos incentivos fiscais concedidos por seu governo.

Mas poucos sabem que seu maior legado foi o primeiro Plano Diretor, encomendado pelo prefeito José Hosken de Novaes (1963-1968). O projeto urbanístico, cuja elaboração foi liderada por Lerner, reconhecia, pela primeira vez, a importância do Lago Igapó como centro de lazer e patrimônio ambiental e recomendava uma série de medidas para aperfeiçoá-lo.

Trecho do livro “Hosken de Novaes, o homem que não se corrompeu”, de autoria de José Antonio Pedriali e com previsão de lançamento este ano, mostra a importância de Lerner para o planejamento de Londrina:

Londrina completou trinta anos de emancipação política quando Hosken de Novaes a governou. Tinha, durante sua administração, cem mil moradores e vinte mil residências – 40% a mais de habitantes e quase doze vezes mais casas de quando ele chegara, em 1940. E a cidade vivia ainda sob o mesmo traçado urbano feito por Alexander Razgulaeff, o russo contratado pela Companhia de Terras Norte do Paraná para projetar suas ruas e praças, estimando-se sua população máxima em vinte mil habitantes. Os limites do projeto original evidentemente haviam sido ultrapassados e a voracidade dos loteadores fizera de seu entorno (que alcançava a atual BR-369 ao Norte e roçava o Lago Igapó ao Sul) uma colcha de retalhos que a Lei 133 tentava organizar.

Promulgada em 1951 por Milton Menezes, a lei seguia orientação do engenheiro e arquiteto Francisco Prestes Maia, duas vezes prefeito de São Paulo. Era o único instrumento orientador do crescimento da cidade desde a planta de Razgulaeff. O café enfrentava altos e baixos, mas continuava a principal base econômica de Londrina, que se consolidara como polo econômico, cultural e político do Norte do Paraná.

Era preciso ir além da Lei 133, restrita aos loteamentos, e organizar a expansão urbana e seu entorno rural, a localização das indústrias, o uso e a ocupação do solo. Um plano diretor era fundamental. Convênio do município com a Companhia de Desenvolvimento do Paraná (Codepar), executado pela Comissão de Desenvolvimento Municipal (Codem), permitiu, em 1966, a elaboração de um diagnóstico do município, intitulado “Londrina – a situação 66”. O plano diretor foi apresentado à Câmara no final do mandato de Hosken, e comportava três leis principais: dos meios (ou objetivos), zoneamento e loteamento.

Encontrar alternativa à Avenida Paraná, a principal da cidade e que concentrava o trânsito de caminhões e ônibus, viria a inspirar na administração seguinte (de Dalton Paranaguá) a remoção da linha férrea, cujo leito foi ocupado pela Avenida Leste-Oeste, construída pelo prefeito Wilson Moreira (1983-89), três quadras abaixo da Paraná e que a acompanha paralelamente no trecho de maior densidade de trânsito. E o lago Igapó, recomendava a comissão que elaborou o estudo preparatório, deveria ser “incorporado visualmente” à cidade. O futuro prefeito de Curitiba e governador do Paraná Jaime Lerner liderava a equipe de arquitetos.

“O lago Igapó, por sua extensão e potencial paisagístico”, afirmava o estudo, “reúne condições que poderão transformá-lo num dos definidores da paisagem de Londrina. Carece, contudo, de maior integração à cidade, tendo em vista a pouca importância que se lhe tem atribuído como local de dispersão. Observa-se, por outro lado, com fator negativo, a existência de algumas indústrias à beira do lago”.

A margem norte do lago, criado sobre o ribeirão Cambezinho por Antônio Fernandes Sobrinho, prefeito de 1956 a 1961, viria a ser urbanizada na administração de Dalton Paranaguá (1969-73), com projeto de Roberto Burle Marx, mas a primeira intervenção de porte que sofreu foi a preservação e profilaxia dos fundos de vale que o abastecem. Há cerca de uma centena de fundos de vale na região urbana de Londrina, que conservam a vegetação nativa e são servidos por riachos ou córregos – uma riqueza ecológica inestimável.

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Um comentário

  1. Satanás

    Ó céus! Estou debulhado em lágrimas. Não sei o que isso significa mas estou debulhado em lágrimas depois de ler os elogios post mortem redigidos por um especialista do gênero – acabei de descobrir -, portador da Síndrome de Pollyanna. Mas tá difícil se esquecer dos anos e anos pagando pedágio quase que diariamente…

  2. Arcanjo

    Faça a pergunta se o Pedágio não é um mau necessário e se ele é único responsável. Mesmo os mercenários concessionados atendendo metade do contrato… ainda assim acho que muitas vidas foram salvas. Refletir as vezes é bom.

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