Walace SO/Coluna Pequena Londres
Buenas Pequena Londres vocês daí ao lado da beira do Lago Igapó, e eu daqui ao lado da beira do Rio Madeira em terras da Amazônia, um Pé Vermelho agora beiradeiro. Entre beiras e beiradas, vamos refletindo um pouco a vida.
Querida juventude das redes sociais, controlada pela realidade simulada da “Matrix” e dos algoritmos e idosos raivosos contaminados pelo vírus do fundamentalismo brasileiro, não vou falar como a Rainha do Rock, Rita Lee, morreu, falarei como ela viveu (frase inspirado no último samurai) … porque ela é contravenção, liberdade, tesão e, enfim, RITA LEE é VIDA plena em seu empoderamento de MULHER.
Ela foi “mutante” quando os X-Men ainda eram bebês, a “ovelha negra” ficaria envergonhada com ela nos “jardins da Babilônia”. Ela “arrombou a festa” e usou “lança perfume”, sem medo de ser feliz. Não se importou com a “erva venenosa”…“orra meu”, deixa eu viver e “desculpa o Auê” (procura no dicionário rsrsrs) porque eu “ando desligado” e “chega mais” que você é um “caso sério”. Agora vou me conectar “alô…alô marciano aqui quem fala é da terra”, vem me abduzir e “baila comigo”, porque eu tenho “mania de você” e com vontade de “um banho de espuma”. Eu quero fugir daqui, que não é “nem luxo e nem lixo”, “papai me empresta o carro” que eu vou embora com “meu doce vampiro”.
Ela lutou contra a censura da ditadura militar, a hipocrisia da sociedade careta e patriarcalista, e foi a grande musa da “Democracia Corinthiana”. Lembro que numa sexta-feira, durante um show épico no Ibirapuera em São Paulo, surgiram no meio do espetáculo os “mosqueteiros” Casagrande, Wladimir e Sócrates, e foi quando o “Doutor” tirou a camisa da Democracia Corinthiana que vestia e a presenteou. Essa camisa era o símbolo do nosso desejo de eleições diretas. Nossa Rainha a vestiu ali no palco, causando a maior catarse no público, como um grito de gol. No domingo seguinte, Osmar Santos narrou o “gol Rita Lee” que Casagrande prometera para ela no show, na final do paulista contra o São Paulo, Timão campeão! Essa era Rita Lee Corinthiana, Roqueira e Mulher.
A propósito, não há como falar de São Paulo (a metrópole) sem falar de Rita Lee, a musa foi imortalizada nos versos da música “Sampa”, uma das maiores homenagens a cidade de Caetano Veloso:
Alguma coisa acontece no meu coração
Que só quando cruza a Ipiranga e a avenida São João
É que quando eu cheguei por aqui eu nada entendi
Da dura poesia concreta de tuas esquinas
Da deselegância discreta de tuas meninas
Ainda não havia para mim Rita Lee
A tua mais completa tradução
Alguma coisa acontece no meu coração
Que só quando cruza a Ipiranga e a avenida São João
(Caetano Veloso, 1978)
Sim ela era a expressão de uma cidade, e de uma época em que tudo era muito diferente, hoje nos perdemos na conexão das redes sociais, na impessoalidade das relações virtuais, das músicas pobres de rimas e reflexões. Também nos esquecemos nossa humanidade na inteligência artificial, nos desafios da internet e da pouca ousadia de viver a vida real. Gostaria que a juventude redescobrisse Rita Lee e um pouco da sua história. Que eles conhecessem suas contravenções, que ouvissem de verdade suas músicas e sentissem um pouco o desejo que tínhamos de quebrar as regras, pelo menos uma vez. Porém, é pedir demais e cada tempo sua geração, sua expressão. Sou mais um dinossauro analógico que sente a morte de uma época maravilhosa na passagem de uma grande cantora.
Rita Lee era uma pessoa ética e rebelde, mesmo que isso seja contraditório para os defensores dos “bons costumes brasileiros”, porém não é. Ela nos ensinou a sermos éticos pelo exemplo, uma de suas maiores composições Amor e Sexo, foi inspirada na crônica “o amor atrapalha o sexo” de Arnaldo Jabor. Ela escreveu essa linda reflexão sobre o tema e não teve dúvida, o colocou como parceiro da composição, quantos fazem isso? Ponderem a atitude ética dela, pois, a crônica de Jabor a inspirou nessa maravilhosa reflexão, que hoje muitos ainda não entendem e a renegam. Compartilho aqui alguns versos para refletirmos juntos sobre a herança dessa santa pecadora:
Amor é cristão
Sexo é pagão
Amor é latifúndio
Sexo é invasão
Amor é divino
Sexo é animal
Amor é bossa nova
Sexo é carnaval
Oh, oh, uh
Amor é para sempre
Sexo também
Sexo é do bom
Amor é do bem
Amor sem sexo
É amizade
Sexo sem amor
É vontade
Amor é um
Sexo é dois
Sexo antes
Amor depois
(Rita Lee e Arnaldo Jabor, 2002)
Caso queiram ouvir, segue o link https://youtu.be/ho-iGFctXe8
Hoje tempos de poliamor e relação aberta, muitos talvez não compreendessem a roqueira contraventora, que amou intensamente seu parceiro e marido por quase cinquenta anos. Segundo ambos um misto de “amor à primeira vista e acordes de guitarra”, com ele teve três filhos e compôs a maior parte de seus sucessos. E nos apresentou tudo que está no parágrafo acima com ele da sua maneira, mais que Jabor em Amor e Sexo, Roberto de Carvalho deve ter sido sua maior inspiração.
Ela não era uma mulher a frente do seu, ela ainda hoje está a frente do nosso tempo, numa dimensão quântica de metaverso, que a maioria dos “homens de bem”, que morrem de medo das mulheres cobrarem seu orgasmo e vida. Bom, para finalizar vou deixar uma frase do grande Preá, filósofo da boêmia londrinense, acompanhado de um breja e bolopanna no balcão do Valentino, “para o mundo que eu quero descer”. Nós dois ouvimos muito Rita Lee no Valentino. Grato Rita Lee pelas loucuras que fiz ouvindo você. Agradeço ao Divino (Buda, Javé, Oxalá, Tupã e todos panteões) por uma Rita Lee em minha vida.
Bora, Refletir!
Walace Soares de Oliveira, cientista social pela UEL/PR, mestre em educação pela UEL/PR e doutor em ciência da informação pela USP/SP, professor de sociologia do Instituto Federal de Rondônia (IFRO).
Meu amigo Wallace, que linda homenagem à essa minha xará. Rita Lee sempre foi inspiração. Parabéns pelo texto!
Grato pelo carinho.
Wallace, meu querido! Tesão de texto! Veremos esse lance de Amor e Sexo rs
Rita Lee está viva noutra dimensão do metaverso que você citou, viva dentro de cada um de nós!! Beijins
Ela é um ser de luz.
Amei o texto/homenagem, Walace! 🧡 Ela foi meu ponto de partida, uma referência, quando entrei para o mundo do rádio, e me envolvi mais com música. Ela estava no auge. ( Sempre esteve) O show dela no Moringão em 83, foi também um dos primeiros grandes que assisti e lacrou para mim, toda a paixão que eu começava a viver nesse mundo- mundo dos grandes nomes da música/ verdadeira arte. Infelizmente, estamos perdendo muitos deles nos últimos tempos.
Mari também estava lá, muitos shows com Cruzeiro FM e Folha FM de um lado e Paiquerê FM de outro. E você no comando da Cruzeiro tem história, além de ter deixado a herança com a nossa UEL FM.
Uma bela homenagem a nossa Rainha do Rock. 👏👏👏
Gosto muito de seus textos. Esteja sempre por aqui, Prof. Walace.
Estou triste com a partida dela, mas grata por ter embalado minha juventude na década de 80. Obrigada Rita Lee❤️, te escuto e te escutarei até que meu dia de partir também chegue. Abraços na Gal.
Grato Glaucia, estou cada dia mais órfão nessa sequência de passagens.