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Cláudio Osti

Entidade internacional que ofereceu cargo à primeira-dama Janja fechou 21 contratos e acordos, no valor de R$ 710 mi, com o atual governo

6 comentários

de O Sul

No terceiro mandato de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), uma entidade internacional que ofereceu cargo à primeira-dama Rosângela da Silva, a Janja, e é próxima de quadros do PT multiplicou o próprio espaço na Esplanada. Beneficiada por dois decretos assinados por Lula, a Organização dos Estados Ibero-Americanos (OEI) fechou 21 contratos e acordos no valor de R$ 710 milhões com 19 órgãos no atual governo.

Responsável por alguns dos principais eventos da atual gestão, como a COP-30, em Belém (PA), e a Cúpula do G-20, no ano passado, a OEI pode embolsar cerca de R$ 42 milhões com taxas de administração, mostram documentos obtidos pelo Estadão. Só por esses dois eventos, a entidade ficará com R$ 30,6 milhões.

A taxa de administração em contratos como o da OEI com o governo foi elevada de 5% para até 10% por um decreto assinado por Lula em março de 2024. Uma outra decisão presidencial, de setembro passado, permitiu à OEI contratar empresas para execução dos acordos, sem licitação. O decreto também acabou com a necessidade de aval da Agência Brasileira de Cooperação (ABC), do Itamaraty. Graças ao normativo de Lula, basta notificar a ABC.

A OEI se apresenta como “a maior organização multilateral de cooperação entre os países ibero-americanos de língua espanhola”. Trata-se de uma entidade internacional de direito público que atua no Brasil há duas décadas, desde o primeiro governo Lula, com eventos, projetos sociais, consultorias e ações educativas. Mas foi na atual gestão que a presença e os ganhos diretos dela alcançaram patamares inéditos.

As parcerias são concentradas em pastas e órgãos controlados pelo PT, como a Casa Civil, a Secretaria-Geral da Presidência, a Empresa Brasil de Comunicação e os Ministérios da Educação e da Igualdade Racial. Dos R$ 710 milhões em contratos, R$ 629 milhões (quase 90%) estão sob o guarda-chuva de ministros e dirigentes petistas.

Sem licitação

Em todo o governo de Jair Bolsonaro (PL), a OEI fechou R$ 78,9 milhões em contratos de acordos de cooperação. Em dois anos de Lula 3, o governo já transferiu R$ 197,9 milhões dos R$ 710 milhões celebrados. Os contratos são fechados sem licitação. Enquanto entidade privada internacional, a OEI não precisa seguir a Lei de Licitações brasileira.

A organização também goza de condições especiais na relação com órgãos fiscalizadores nacionais. O acordo em que o Brasil estabeleceu relação formal com a OEI, de 2004, determina que a sede da entidade no País, situada em Brasília, só pode ser alvo de autoridades mediante autorização de sua direção. A sede da entidade está submetida a regras parecidas com as aplicadas às embaixadas de países estrangeiros.

A OEI entrou em evidência por causa do contrato com a Secretaria Extraordinária da COP-30, subordinada à Casa Civil. A pasta repassará R$ 478 milhões para o órgão preparar a conferência climática que ocorrerá em Belém (PA), em novembro. O ministro Bruno Dantas, do Tribunal de Contas da União (TCU), indeferiu, na última terça-feira, um pedido da oposição para suspender o contrato.

Entretanto, as discussões sobre o protagonismo da OEI não têm abrangido o alcance da entidade no governo nem os valores que a organização cobra em cada contrato.

Do montante previsto para a COP-30, 5% serão recebidos a título de “taxa de administração”, o equivalente a R$ 22,7 milhões, que irão diretamente para o caixa da entidade. Em uma nota técnica da Casa Civil, o governo afirma textualmente que a celebração do acordo com essa taxa não visa “vantajosidade (sic) financeira”, mas “provimento de insumos técnicos que permitam aportar conhecimento necessário ao desenvolvimento de capacidades”.

A maior parte dos acordos com a OEI diz respeito ao cerimonial e à logística da COP-30 e da reunião da cúpula do G20 – realizada em novembro do ano passado, no Rio – ou a projetos paralelos a esses eventos.

Mas a atuação da organização é mais ampla e também abrange consultorias em educação básica, cursos de aperfeiçoamento para servidores públicos e projetos sociais. Apesar da “vitrine” da COP-30, os tentáculos da OEI não se limitam a acordos firmados no primeiro escalão do governo, diretamente com o comando de ministérios.

Em setembro de 2024, a Secretaria-Geral da Presidência da República (SG-PR) firmou um projeto de cooperação técnica internacional com a OEI ao custo de R$ 10 milhões para os cofres da União. O governo também ampliou outra modalidade de repasses à entidade internacional, o regime de “contribuições voluntárias”.

A SG-PR doou R$ 14 milhões nessa modalidade para “fortalecimento de processos participativos na elaboração, implementação e monitoramento das políticas públicas para o aprimoramento da democracia participativa”. O Ministério do Empreendedorismo, da Microempresa e da Empresa de Pequeno Porte, mais R$ 49 milhões, e o Ministério da Educação, outros R$ 35 milhões. (Com informações do Estado de S. Paulo)

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6 comentários

  • Ivan Luiz Pauli

    A gastança sem controle e obscura dos governos veem, seguidamente, tornando nosso futuro inviável, a esquerda aumenta o endividamento público para sustentar a “cumpanheirada” sob o orçamento público, enquanto a base produtiva e trabalhadora empobrece e/ou emburrece.
    Matéria excelente, Cláudio, expõe de modo claro uma das formas (entre muitas) de transferência de renda dos pagadores de imposto para o rei e seus amigos.

  • O PT e os “parças”… O governo do imaculado Lula tudo é transparente e nunca existiu corrupção. E creio que o palácio do Planalto vai esclarecer essa manchete, cujo objetivo é tão somente acusar o PT de não ser honesto!

  • “a OEI não precisa seguir a Lei de Licitações brasileira”. Ponto final.
    Como a OEI também fechou contrato na gestão Bolsonaro, não é possível inferir que a suposta oferta de emprego a Rosangela da Silva tenha relação com esses contratos.
    O Executivo brasileiro custa caro ao contribuinte. O Parlamento brasileiro custa caro ao contribuinte.
    Precisamos fazer um debate sério sobre os gastos dos governos: federal, estadual, municipal.

    • Dona Glaucia é a nossa Velhinha de Taubaté? Nem a Itaipu Binacional segue a lei de licitações e repassou mais de 1,5 bilhão de reais para outra empresa entidade que não segue lei de licitações que é a OEI.

  • Cadê a Carol Datora?

    198 mil reais para um convidado consultor

    https://oei.int/pt/licitacoes-y-convocatorias/

    En fase de apresentação
    PROJETO SECOP/COP-30/PLANEJAMENTO – TR 11523
    Os interessados deverão realizar o cadastro diretamente na página da OEI, endereço eletrônico https://candidatos.sigoei.org.br/index.php?selecao=11523, acessando este edital e respeitando o prazo estabelecido, período de 08-04-2025 a 13-04-2025.
    Descrição
    Referência
    130/2025
    Tipo de procedimento
    Contratação de consultor PROJETO
    Localidade
    Brasília/DF
    Data de início
    8 Abr. 2025 · 00:00 (Hora BRA)
    Data de finalização
    13 Abr. 2025 · 00:00 (Hora BRA)
    Data limite para consultas
    13 Abr. 2025 · 00:00 (Hora BRA)
    Tipo de contrato
    Consultores
    Valor de referência
    R$ 198.000,00

  • antonio gonçalves filho

    Em se tratando do velho e corrupto PT, nada de novo no front…

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